Sérgio Conceição, nome de pai e filho: «Vai sempre pesar ao longo da minha vida»

Entrevista Sérgio Conceição, nome de pai e filho: «Vai sempre pesar ao longo da minha vida»

NACIONAL19.03.202212:00

No Dia do Pai quisemos conhecer melhor um filho que tem o nome do pai bem vincado: Sérgio Conceição. É o mais velho de cinco filhos. Tem 25 anos, joga a lateral-direito (mas já foi extremo, como o pai) no E. Amadora e tem mau feitio (como o pai, dizem, e diz ele também). Simpático, de sorriso rasgado e sincero.

- Estamos no Estádio José Gomes para conhecer este Sérgio Conceição jogador do Estrela da Amadora. Quem nos lê nesta altura o que é que deve saber de ti? Quem és tu?
-  Sou uma pessoa muito ambiciosa. Tenho um feitio um bocadinho complicado, mas é graças a esse feitio que nunca desisti, depois dos muitos obstáculos que tive até hoje no futebol. Vim de baixo e essa crença em mim fez com que hoje esteja na Liga 2. Percorri tudo através do meu trabalho e é isso que mais me deixa orgulhoso. Tudo o que consegui até hoje foi através do meu suor e não através de outras coisas que as pessoas às vezes pensam. É fácil apontar quando se tem o nome que eu tenho, mas isso passa-me completamente ao lado porque eu sei aquilo que sou capaz e sei aquilo que fiz para chegar até aqui.


- Dizes que vieste de baixo, porque tu não fazes a formação enquanto jogador num clube grande?
- Sim, sim e tive de passar por muitas coisas difíceis e isso deixa-me orgulhoso, sabendo onde estou hoje. Se me dissessem, quando tinha 18 anos, que aos 25 estaria no clube em que estou, na Liga 2, e a ser feliz a jogar futebol era difícil eu acreditar. Houve muitas contrariedades que se passaram, mas eu olho para elas de forma positiva, pois foram essas contrariedades que me fizeram crescer, e que me fizeram hoje ser o profissional que sou. Sou muito dedicado e amo aquilo que faço, que é o mais importante.


- Que contrariedades foram essas?
- Vou deixar para mim. Houve muitas coisas sobre as quais agora não vale a pena falar.

- Andaste sempre com a casa às costas e isso dificultou muito essa missão de ser jogador de futebol?
- Sim, porque eu cheguei com 16/17 anos a Portugal. A cada ano mudava de casa porque acompanhei sempre o meu pai. Isso foi muito bom porque deu-nos uma estabilidade familiar e uma união familiar que vejo em muito poucas famílias. Mas, até aos 18 anos, até entrar para a faculdade, acompanhei sempre o meu pai para todo o lado e obviamente isso depois tinha repercussões no futebol. Não era tão reconhecido na formação como gostava de ser e não tive uma formação estável.


- Transferiste-te para o Estrela da Amadora na época passada. Porquê?
- Foi o presidente que me ligou. Eu tive um ano menos positivo na Académica e quando recebi a chamada do presidente [André Geraldes] nem pensei duas vezes porque achei que era o projeto certo para poder relançar a minha carreira e puder fazer aquilo que mais gosto, que é jogar futebol.


- Quando chegaste ao Estrela o clube estava a tentar reerguer-se. O facto de teres vindo para o distrito de Lisboa, longe de casa e da família, foi como que uma afirmação do Sérgio Conceição na sua individualidade enquanto jogador de futebol, longe do pai e do peso do nome?
- Sim. Desde pequeno que tive como objetivo afirmar-me por aquilo que eu sou. Quando o presidente me ligou senti que este era o passo certo. Tive um ano muito complicado na Académica, um clube de que gosto muito e do qual a minha família é adepta pois todos são de Coimbra e só eu e os meus irmãos nascemos no Porto. O facto de não ter tido sucesso num clube do qual eu gosto muito deixou-me triste e quando recebi a chamada, com a vontade que o presidente demonstrou em contar comigo, pensei em arriscar e foi uma aposta ganha. Pensei que era o projeto ideal pois era um clube histórico que estava adormecido e que se está a reerguer. Brevemente estará na I Liga e deixa-me muito orgulhoso ter feito parte desse projeto. Até agora conseguimos tirar o clube do Campeonato de Portugal para a Liga 2, e colocá-lo completamente estável. Estou muito orgulhoso por tudo o que tenho feito até agora aqui e estarei extremamente agradecido, tanto às pessoas da Direção, como às equipas técnicas que apanhei por tudo o que tenho feito até aqui. Quando ao nome que tenho vai sempre pesar ao longo da minha vida porque o meu pai é uma figura muito importante no mundo do futebol, principalmente em Portugal. Cedo consegui conviver bem com isso. Quando era mais novo era mais difícil, hoje já estou um pouco mais habituado e sempre tive esse espírito de querer marcar pela diferença, por aquilo que eu faço e não por aquilo que eu tenho. É isso que tenho vindo a fazer ao longo da minha vida e é isso que eu quero continuar a fazer.


- Esta época o Estrela da Amadora vai assegurar facilmente a manutenção na Liga 2 e para o próximo ano os objetivos serão outros. Em termos individuais que balanço fazes desta época?
- Primeiro o coletivo e depois o individual [sorriso]. Em termos coletivos no campeonato temos feito uma prova tranquila apesar de considerar que em determinados momentos a nossa equipa foi um bocado prejudicada e isso impediu-nos de hoje estarmos a lutar por algo mais pois a qualidade individual e coletiva dos jogadores era para estarmos mais acima na classificação. Acho que foi um ano de aprendizagem para o clube e para nós, jogadores, para na próxima época estarmos mais acima do que queremos. Em termos individuais esta época tem sido extremamente positiva. Só uma lesão que tive no início do ano me impediu de jogar sempre. Tenho cumprido com as expectativas que criaram em mim e estou bastante contente pois tenho provado a muita gente que posso estar neste patamar e talvez um dia mais tarde noutro mais acima.


- Começaste como extremo como o teu pai e depois recuaste e agora és lateral-direito. És um líder e é por isso que te deram a braçadeira de capitão do Estrela?
- Sim. Na época passada era o terceiro capitão. O Leão, que era o primeiro capitão, acabou a carreira. O segundo, o Yuran, saiu. Eu era o terceiro e esta época o clube decidiu dar-me a braçadeira. Fiquei muito contente por capitanear uma equipa histórica em Portugal.
 

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