A internacionalização do desporto  (artigo de Vítor Rosa, 133)

Espaço Universidade A internacionalização do desporto (artigo de Vítor Rosa, 133)

ESPAÇO UNIVERSIDADE13.11.202019:58

Depois da Guerra Mundial de 1939-1945, o fenómeno desportivo prossegue a sua expansão no seio das sociedades industrializadas, assumindo um papel cultural importante. Se o conhecimento do teorema de Pitágoras nos parece puramente livresco, dado que não se percebe a imediata utilidade social, a dos resultados desportivos fazem parte da cultura comum e quotidiana dos cidadãos. Sabiamente orquestrados pelos meios de comunicação social, os supostos valores do desporto moderno reagrupam os povos da terra inteira, dividindo-os, por vezes, artificialmente.

Supor que o desporto é igualitário e apresenta um caráter de justiça, é acreditar que a competitividade e a concorrência têm uma função simbólica. O mito da universalidade do desporto pertence definitivamente aos imaginários e as representações sociais surgem, com força e vigor, quando se trata de relembrar as ambivalências dos valores do desporto.

Durante os “trinta gloriosos” (expressão que designa os 30 anos que se seguiram depois da II Guerra Mundial), os responsáveis políticos dos diferentes governos e organizações supranacionais tentam pensar o desporto para evitar a sua desnaturalização. Face à mundialização do desporto, o Comité Olímpico Internacional (COI) defende os seus projetos e arroga o título de “guardião” (exclusivo) dos valores desportivos. No decurso da segunda metade do século XX, as noções de risco, de excesso e de progresso marcam, cada vez mais, as representações dos povos.

Face a esta crença, os discursos políticos relacionados com o desporto procuram despertar as consciências individuais e coletivas. Parece-nos importante evocar aqui a célebre crítica do sociólogo francês Jean-Marie Brohm (Sociologie politique du sport, Paris, 1976), que definia o desporto como um “positivismo institucionalizado do corpo”. Se a arma económica ou a arma militar são privilegiadas entre os países ricos, industrializados, a arma desportiva encontra-se disponível em todas as Nações. Reivindica-se, assim, o estatuto de Embaixador. A instrumentalização dos heróis desportivos participa nesta lógica de sedução.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa