Contagem decrescente para o título (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Contagem decrescente para o título (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL09.07.202013:49

Hoje já pode haver, matematicamente, campeão nacional, assim ganhe o FC Porto em Tondela e perca o Benfica em Famalicão. Mas, hoje ou em data posterior, o campeonato mais atípico da história do futebol português não parece vir a fugir aos dragões, que fizeram pela vida, não entraram em pânico quando a vantagem dos encarnados parecia conduzi-los a um passeio rumo ao 39, e capitalizaram a implosão da equipa de Bruno Lage, um estoiro épico que fez o Benfica perder 20 pontos em dez jogos (entre a derrota caseira com o FC Porto e o desaire no Caldeirão dos Barreiros).
 

Diga-se, desde já, que em boa hora foi possível retomar a competição, porque os resultados - título, Europa e despromoções - traduzem o que aconteceu dentro das quatro linhas, o que é um bálsamo para quem respeita o futebol e não gosta de decisões administrativas. Não foram as condições ideais, foram as possíveis, na criação de um novo normal com que aprendemos a viver… e que todos e cada um de nós deseja ardentemente ver pelas costas, tão depressa quanto possível. 
 

Mesmo com os solavancos que esta época conheceu, por causa da pandemia e também devido às oscilações de forma dos principais candidatos à vitória, chega-se à 30.ª jornada e constata-se que o líder FC Porto tem uma média de 2,43 pontos por jogo, que não foge muito aos valores obtidos pelos campeões desta década:
 

2009/10 – Benfica, 2,53

2010/11 - FC Porto, 2,8

2011/12 - FC Porto, 2,5

2012/13 - FC Porto, 2,6

2013/14 – Benfica, 2,46

2014/15 – Benfica, 2,5

2015/16 – Benfica, 2,58

2016/17 – Benfica, 2,41

2017/18 – FC Porto, 2,58

2018/19 – Benfica, 2,55

2019/20 – FC Porto*, 2,43

*A quatro jornadas do fim
 

Para o FC Porto, que começou esta época com o pesadelo do Krasnodar, que foi um rude e inesperado golpe nas suas depauperadas e vigiadas finanças, acabar a temporada com o conforto de saber que pode contar com os milhões da Champions para equilibrar o barco – a que acresce a certeza de que, em 2020/21, o segundo lugar na Liga portuguesa já dá acesso direto à fase de grupos da Liga milionária – é um alento tremendo, de caráter até regenerador.
 

Já o Benfica, ao que tudo indica segundo na tabela, vai ter de meter ‘a carne toda no assador’, como diria o enorme Quinito, de boas memórias, para enfrentar a meio de setembro a terceira pré-eliminatória da Champions e a seguir, se passar, jogar o play-off que é a antecâmara da Liga dos Campeões.
 

Por tudo isto, porque sai desta época com a sensação de ter tido o pássaro na mão, pela necessidade de não falhar o desafio da Champions e, ‘last but not least’, pelo ato eleitoral que vai decorrer após os jogos europeus decisivos de setembro, Luís Filipe Vieira não tem alternativa a realizar um investimento sério na equipa de futebol. Aliás, o aumento (perante uma extraordinária procura) do empréstimo obrigacionista de 35 para 50 milhões de euros, já aponta nesse sentido…