Joe Biden à Rússia: «Libertem Griner imediatamente!»

WNBA Joe Biden à Rússia: «Libertem Griner imediatamente!»

MAIS DESPORTO06.08.202216:55

O Presidente dos EUA, Joe Biden, classificou como «inaceitável» a condenação da basquetebolista norte-americana Brittney Griner a 9 anos de prisão pelo Tribuna de Khimki, na Rússia, por alegado contrabando de substâncias proibidas, numa declaração que eleva ainda mais a tensão entre Washington e Moscovo.

«Brittney Griner foi condenada a uma sentença que é mais um sinal do que o Mundo já desconfiava: a Rússia deteve Brittney por engano. É inaceitável, e apelo à Rússia que a liberte imediatamente, para que se possa reunir com a sua mulher, familiares mais próximos, amigos e companheiras de equipa» [das Phoenix Mercury, equipa da WNBA]», afirmou o Presidente norte-americano, numa declaração emanada da Casa Branca, sobre o julgamento da base, bicampeã olímpica e mundial pelos EUA.

Já o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, criticou de forma mais severa o sistema legal russo, que previa uma moldura penal de até dez anos de prisão para o crime pelo qual Brittney foi condenada: o Procurador pediu, em tribunal, 9 anos e meio de prisão efetiva, Griner foi sentenciada a anos.

«Esta condenação é um sinal vigoroso quanto às nossas preocupações com a Rússia, o seu sistema jurídico e o recorrer, por parte do governo russo, a detenções por engano de acordo com a sua própria agenda, usando indivíduos como armas de arremesso políticas», afirmou na capital norte-americana Blinken, o equivalente em Portugal a ministro dos Negócios Estrangeiros.

Anthony Blinken garantiu que o Departamento de Estado «continua a trabalhar no duro para trazer Brittney e Paul [Whelan, um ex-fuzileiro norte-americano também sentenciado a 15 anos em Moscovo] para casa, sã e salva, o mais rapidamente possível», pela via diplomática. «É a nossa prioridade», asseverou.

Griner, que aproveitou a pausa da WNBA entre épocas para jogar por alguns meses no UMMC Ecaterimburo – equipa da 1.ª divisão russa -, foi detida a 17 de fevereiro no aeroporto de Moscovo, por alegadamente transportar um vaporizador à base de cannabis na bagagem, e aguardou seis meses pelo início do julgamento, consideram-se culpada e alegando «ter feito a mala à pressa» por atenuante, além do desconhecimento das leis da Rússia.

A possibilidade de troca de Brittney e Whelan por Viktor Bout, russo detido por tráfico de armas nos EUA, mantém-se em aberto e, na Casa Branca, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional (National Security Council, NSC), John Kirby, enfatizou que «a bola está do lado da Rússia».

Com o Kremlin a acusar os EUA de «diplomacia de megafone, que não irá resultar ou ajudar»: a divulgação dos planos por antecipação em matéria tão delicada. Dmitry Peskov, o porta-voz de Moscovo, afirma que este diálogo entre as duas superpotências globais «deve ser sigiloso».

A equipa de Brittney Griner – que continua a ver o seu salário pago pela WNBA à sua mulher, Cherelle -, as Phoenix Mercury, defrontaram e perderam (64-77) na madrugada de sexta-feira (hora de Portugal continental) com as Connecticut Sun:  antes do jogo, as duas equipas cumpriram 42 segundos de silêncio (42 é o número da camisola de Brittney) abraçadas.

Diggins-Smith, jogadora das Phoenix Mercury, disse aos jornalistas, envergando uma t-shirt com a mensagem ‘We are BG’ [‘todos somos Britnney Griner, BG’] que «ninguém sequer queria jogar, pois o veredito de Brittney foi devastador, ninguém tinha a cabeça limpa, apesar da tentativa de a honrar».

«Não permitiremos que seja esquecida. Todos os dias somos inspirados pela força de BG», lê-se num comunicado emanado pelas Phoenix Mercury nas ‘ondas de choque’ de reação à sentença, com a treinadora da equipa, Vanessa Nygaard, a assinar por baixo.

«O veredito de Griner é inaceitável, de partir o coração! Mais ainda após ouvir as suas palavras e desculpas. Apenas queremos mandar-lhe a maior força, amor e a nossa solidariedade», disse Nygaard.

Numa declaração conjunta, os comissários da liga profissional masculina (NBA), Adam Silver, e da liga feminine (WNBA), Cathy Engelbert, criticaram, também, a sentença. «Injustificada e infeliz, mas não inesperada», como resumiu Adam Silver à CNN.

«O esforço de WNBA e da NBA para que Brittney regresse sã e salva a casa não se esgotou. É nossa esperança que no final Griner volte aos EUA», disse.

A esperança reacende-se nos EUA por a sentença ainda não ter transitado em julgado: os advogados russos de Brittney Griner, Maria Blagovolina and Alexander Boykov, informaram, em comunicado, que irão recorrer da decisão, medida para a qual dispõe legalmente de dez dias após a condenação: faltam oito para se esgotar o prazo.

«Estamos muito desapontados com o veredito. Como profissionais do Direito, acreditamos que o tribunal deve ser justo para qualquer um, independentemente da sua nacionalidade. O tribunal ignorou por complete os argumentos da defesa e, mais importante, as alegações da arguida, que se deu como culpada. A sentença contradiz a prática legal, o veredito é absolutamente inaceitável», lê-se na nota.

«O tempo médio de prisão aplicável em casos destes, com o arguido a dar-se como culpado, é de cinco anos, e não nove», afirmou o representante de Griner, Alexander Boykov, à saída do tribunal, citado pelo tribunal, confirmando que à saída do julgamento, ao recolher à cela, a basquetebolista ainda afirmou alto «Amo a minha família».

Blagovolina e Baykov, elementos do escritório russo de advogados Rybalkin, Gortsunyan, Dyakin & Partners, esperam conseguir que por fim, ao cabo de mais de 170 dias detida, consigam que Brittney possa falar com a sua família.