«Este ainda é o País de Fátima, futebol e fado»

Ténis de mesa «Este ainda é o País de Fátima, futebol e fado»

TÉNIS DE MESA17.08.202300:57

«Cansaço» é a palavra mais ouvida na conversa com o presidente da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa (FPTM), Pedro Miguel Moura, sobre a intenção da administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) de rever o patrocínio das atividades dos comités e das federações, que é «mais um fator de desilusão» para uma geração de dirigentes com três mandatos consecutivos e a fazer a despedida nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 sem resolver o problema do subfinanciamento do desporto.

A FPTM dispõe de orçamento anual de um milhão e meio de euros, do qual apenas 30 mil euros são relativos ao patrocínio da SCML. Embora pouco expressivo, o patrocínio representa «uma ajuda» para «atividades extra» que já tinham sofrido reajustamento quando o último contrato chegou ao fim, em maio, e as conversações para a renovação entraram «num impasse». A carta assinada pela provedora da SCML, Ana Jorge, a alertar para a reavaliação da atribuição destes montantes representou apenas a confirmação da machadada.

«Há uma grande desilusão e tristeza. Quando estamos à procura de novas ferramentas de financiamento, levamos com mais uma pazada em cima do caixão», lamentou Pedro Miguel Moura, sem esconder o «cansaço» de uma geração de dirigentes, maioritariamente antigos praticantes das suas modalidades, que se prepara para deixar os cargos a seguir a Paris 2024.

«Este patrocínio da SCML tem um peso diferente no orçamento de cada federação, até porque financia atividades diferentes, mas relembra a nossa luta de anos por um modelo de financiamento do desporto em Portugal sem alteração nos últimos 12», justificou o antigo jogador do Sporting. «Ao fim de tantos anos, está tudo no mesmo sítio. Só agora o ténis de mesa está a voltar aos valores de financiamento de 2011, antes da troika. É um crescendo de desilusão e de expectativas não cumpridas.»

Num «País dos três efes - Fátima, futebol e fado -, embora a Revolução de Abril tenha acontecido há quase 50 anos, nada mudou na forma como se encara o desporto», reforçou o líder do ténis de mesa. «Há uma saturação desta luta inglória das federações por tostões, agravada pelas disparidades provocadas pelas apostas. É o próprio Estado que fomenta a monocultura desportiva.»

Referência implícita à Seleção Nacional feminina de futebol, que venceu um jogo no Mundial, mas teve «o primeiro-ministro na Nova Zelândia, o Presidente da República a recebê-la por duas vezes e caças a escoltá-la no regresso a Portugal». E rematou: «O que vou dizer aos meus jogadores que estão entre os melhores do mundo na modalidade com mais praticantes e com resultados de relevo em Europeus, Mundiais, Jogos Olímpicos e Jogos da Europa?»