«Se fizesse no Barcelona o que fiz no FC Porto podia ter ganho a Bola de Ouro»
Ricardo Quaresma num clássico frente ao Real Madrid em 2003 (Helena Valente/ASF)

«Se fizesse no Barcelona o que fiz no FC Porto podia ter ganho a Bola de Ouro»

NACIONAL26.11.202308:55

Ricardo Quaresma traça o perfil do clube dos seus sonhos e o do coração. Fala da mágoa de não ter triunfado na Catalunha e aposta num empate no jogo da Liga dos Campeões de terça-feira

Foi em 2002/2003 que concretizou o sonho de jogar num dos maiores clubes do mundo, o Barcelona. Quando aterrou na Catalunha, era um dos nomes para formar a nova equipa dos culés, juntamente com Ronaldinho Gaúcho e Saviola. O Harry Potter da Catalunha, como foi apelidado por Laporta, encantava o mundo com os seus dribles desconcertantes, mas a sua passagem pelo clube não teve o impacto que o presidente e o jogador desejavam, tendo feito apenas 28 jogos e marcado um golo. Descontente, decidiu dar um rumo diferente à sua vida e aceitou trocar o Barcelona pelo FC Porto. Em boa hora o fez, pois foi ao serviço dos dragões que viveu os grandes momentos da carreira, com muita magia à mistura, deliciando os adeptos azuis e brancos. 

Agora os dois clubes encontram-se novamente na Liga dos Campeões e A BOLA falou com o homem das famosas trivelas sobre a vivência que teve nos dois emblemas e, ao mesmo tempo, sentiu o pulso da identidade de ambas as instituições. «Em termos de nome, o FC Porto é grande, mas o Barcelona é aquele clube que qualquer jogador sonha em jogar. Para mim foi um orgulho ter jogado nos dois, mas como já disse o Barcelona foi sempre o meu sonho chegar lá. Uma das coisas que mais me arrependi, e me deixa um nó na garganta, é o facto de não ter conseguido triunfar no Barcelona. Pessoalmente, era o meu sonho. Se fizesse no Barcelona o que fiz no FC Porto estaria junto dos grandes num patamar para ganhar uma Bola de Ouro. Mas a vida é assim, vamos tendo oportunidades e agarras ou não agarras e não há que lamentar isso. Agora, fico feliz porque consegui realizar o meu sonho e também joguei no FC Porto, que não deixa de ser um grande clube e onde fui muito feliz, onde me receberam muito bem. Por isso, como jogador e pessoa posso dizer que sou feliz e grato pela oportunidade que Barcelona e FC Porto me deram para vestir as duas camisolas», confessa.

Ricardo Quaresma no FC Porto em 2014 (Paulo Esteves/ASF)

 Mas, então, o que difere ou é similar na cultura de duas regiões como Barcelona e Porto? Quaresma fala do assunto com conhecimento de causa. «Quando se entra em cidades como Barcelona e o Porto nota-se logo que são diferentes das outras. Barcelona é Catalunha, querem ser um país e não uma cidade e logo aí nota-se que a mentalidade das pessoas é diferente. E o Porto é aquilo que todos sabemos, é uma cidade totalmente diferente de todas as outras que temos em Portugal. As pessoas vivem para o clube, respiram o clube, não veem outra coisa que não seja o clube. É o que digo muitas vezes: para conseguires triunfar no FC Porto tens de ter muita personalidade, pois a exigência é tanta. Às vezes há muitos jogadores, não é que não tenham qualidade, mas não aguentam essa pressão toda… Em Portugal, o FC Porto é diferente dos outros clubes», analisa. 

«Xavi já tinha o perfil de líder»

Apesar de curta, a passagem por Barcelona possibilitou a Quaresma privar com Xavi, um produto da cantera dos catalães e que é atualmente o treinador do clube. O antigo extremo lembra que, já na altura, via traços de líder e treinador em Xavi. «Sobre o Xavi, é aquele jogador que quando treinas com ele e jogas com ele percebes que mais tarde ou mais cedo vai ser treinador. São jogadores, mas ao mesmo tempo já vês que são treinadores em campo. Ele falava com os colegas todos, tentava sempre ajudar o colega que estava ao lado, então vê-se que tem perfil de treinador. É o caso do Rúben Amorim, era um jogador que tu olhavas e vias que já tinha esse perfil. Posso dar outros exemplos, tipo Costinha, Jorge Costa... Já tinham perfil, sabem falar com os colegas, explicar, estão sempre atentos aos pormenores que muita gente não dá atenção, mas são muito importantes no futebol. O Xavi era assim», recorda. 

A finalizar, Quaresma lança um prognóstico para o duelo que terá como palco o Estádio Olímpico Lluís Companys, uma vez que o Camp Nou se encontra a ser alvo de uma profunda remodelação. «Para mim podia ser um empate porque o Barcelona e o FC Porto são os dois clubes que vão passar a fase de grupos, esse resultado não impedia um nem outro de passarem. Por isso, era excelente», remata Ricardo Quaresma.