‘Sassálotelli’ deixou a bebida e reencontrou o golo no Amazonas
Antigo avançado do Marítimo é ainda, com 18 golos, o máximo goleador dos quatro campeonatos brasileiros de 2023. Campeão da Série C foi distinguido como amazonense. Está a negociar a renovação de contrato com o Amazonas
Sassálotelli. Como ele próprio se denominou, nas redes sociais, há uns anos, numa referência óbvia ao avançado italiano Mario Balotelli. Sassá, o brasileiro, encontrava semelhanças em termos físicos com o jogador de 33 anos do Adana Demirspor. Mas há também um paralelo com a inconsequência que a carreira de ambos foi conhecendo ao longo dos últimos anos. E também nas polémicas. Como a da foto publicada nas redes sociais, em 2016, depois de uma vitória num jogo com o Grêmio, ainda no Botafogo, ostentando dinheiro, maços de notas destinadas a pagar o bicho (prémio de jogo) da vitória em Porto Alegre, ao soco em Mayke, defesa do Palmeiras, na meia-final da Copa do Brasil de 2018, que lhe valeu então 12 jogos de castigo.
Luiz Ricardo Alves, 29 anos, carioca do Rio de Janeiro, conhecido por Sassá, vive, talvez, a sua melhor versão. No último ano, dividido entre o Athletic, de Minas Gerais (11 jogos oficiais e apenas um golo e uma assistência), e o Amazonas FC, novel clube que conquistou a Série C do Brasileirão, o antigo ponta de lança do Marítimo voltou a estar em plano de destaque: foram 18 golos em 23 jogos, que o tornam, ainda, no melhor marcador no conjunto dos quatros campeonatos nacionais (Paulinho, avançado do Atlético Mineiro, máximo goleador da Séria A, soma 17 remates certeiros).
Revelado pelo Botafogo e com passagens por Oeste, Náutico, Cruzeiro, Coritiba, Marítimo, CSA e Atl. Mineiro, foi no Amazonas FC, este ano, que Sassá se reencontrou com os golos e com o futebol que o tornaram referência nos primeiros anos de carreira.
«Estava numa fase na minha carreira em que precisava voltar a jogar. Foi uma oportunidade muito boa que apareceu, consegui voltar ao cenário sendo o melhor marcador de uma competição nacional, com o clube campeão. O estado parou, a gente na rua a festejar e a receber o carinho do povo, foi uma coisa fantástica. A melhor decisão da minha vida foi ir para o Amazonas», reconheceu Sassá, recentemente, em entrevista ao Globo Esporte.
Procurar ajuda fora do campo
Para conseguir a metamorfose na carreira, Sassá admitiu que foi necessário alterar hábitos e o recurso a profissionais de outras áreas.
«Tive a minha segunda chance, tive e não abri mão. Pude dar a volta por cima na minha vida, sou campeão brasileiro, maior artilheiro de todas as divisões… Eu escolhi mudar e mudei. Graças a Deus, tive a segunda chance, nem todo mundo tem. Hoje, tenho as experiências de tudo que fiz e do que aconteceu, mas as coisas mudaram. Foi uma temporada muito produtiva, bastante assertiva. Uma temporada boa para a minha carreira, estava a precisar de números muito altos em quantidade de jogos, minutos e golos. Fico bastante feliz por tudo que Deus fez pela minha vida», disse ainda o goleador na referida entrevista.
A sequência de lesões (traumáticas e também ligamentares) no Cruzeiro e o período de quase um ano sem jogar mexeram, e muito, com a cabeça de Sassá, que para se reencontrar teve de operar uma mudança completa de vida. Segundo o jogador, a ajuda de profissionais para cuidar da mente e do corpo foram fundamentais para adotar outro estilo.
«Não conseguia treinar-me, sentia muitas dores no joelho ainda e não estava com força suficiente. Sempre fui um jogador forte e não estava a conseguir desempenhar o meu trabalho. Isso não era só treinar, fiquei muito tempo parado e comecei a buscar profissionais que pudessem ajudar-me a solucionar essa situação», recordou ainda Sassá.
Em branco em Portugal
Pelo meio, Sassá ainda tentou a sorte em Portugal. Por empréstimo do Cruzeiro, o avançado foi reforço do Marítimo na primeira metade de 2021. Primeiro, com Milton Mendes, na parte final já com o espanhol Julio Velázquez como treinadores. No total, o brasileiro marcou presença em apenas sete jogos (120 minutos!) e não assinou qualquer golo.
Desapontado com o curso da sua carreira, Sassá abandonou o Funchal sem autorização da SAD maritimista, foi alvo de processo disciplinar, terá depois alegado justa causa para a rescisão unilateral de contrato, e tudo terá seguido para a FIFA…
De volta ao Brasil, Sassá ganhou nova oportunidade em Maceió. Para jogar a Série B. Mais uma oportunidade desperdiçada.
«Fiz quatro meses de contrato com o CSA, não renovei no meio do ano, foi bastante difícil e não tinha mais plano B, só tinha o A. Tinha de dar um rumo na minha vida, foi quando comecei a focar-me, parei com tudo de bebida e o que poderia atrapalhar-me. Fiz um ano só de treinos e dieta, mais nada. Creio que tudo que estou vivendo hoje eu plantei lá atrás e esse ano colhi tudo o que plantei», partilhou agora Sassá.
Com contrato com o Amazonas FC até o fim de novembro, Sassá ainda não definiu o futuro. A única certeza é o desejo de continuar no Brasil, próximo da família.
«Sou muito novo ainda, tenho 29 anos e com o meu currículo e com toda a rodagem estou feliz, vivendo uma vida tranquila com a minha família e filhos. As minhas férias e folgas são para eles. Por muito tempo não foi essa a opção, agora quero escolher ser feliz com a minha família porque estando bem fora de campo sei que que vou estar bem dentro», é a convicção do avançado que, sem rodeios, admitiu que «pecava muito» extracampo.
«Estou a ter uma vida muito boa, nem tanto pela parte financeira, mas a minha vida mudou, a minha esposa está feliz dentro de casa… ela passou por muita coisa. Deus transformou a minha vida», finalizou Sassá.