Futebol Feminino Fernando Tavares reflete após a saída de Cloé: «O Benfica continuará a fazer o caminho solitário...»
A saída de Cloé Lacasse do Benfica, este domingo oficializada, motivou as mais variadas reações no universo benfiquista.
Fernando Tavares, vice-presidente das águias para as modalidades, a quem a internacional canadiana agradeceu, partilhou um longo texto no qual lamenta que Cloé Lacasse não tenha podido continuar nas encarnadas porque o seu talento, ambição e profissionalismo tornaram-se demasiado grandes para a realidade desportiva em Portugal.
O dirigente lamenta que o esforço do Benfica para crescer não esteja a ser acompanhado pelas «entidades desportivas» e pelos «outros clubes».
«O Benfica continuará a fazer o seu caminho solitário na esperança que outros se juntem e na esperança que os órgãos competentes compreendam o momento e invistam naquilo que muitos não aceitam ser uma inevitabilidade», escreve Fernando Tavares, notando que, assim, Portugal vai «continuar a perder talento e a nivelar a competição por baixo» e lançando uma reflexão:
«Para já seremos aquilo que merecemos, ou seja, um país desportivo periférico com um futebol no feminino que evolui mas a uma velocidade baixa.»
O vice-presidente encarnado agradece, por fim, a Cloé tudo que a avançada fez pelo Benfica.
Leia o texto de Fernando Tavares na íntegra:
«Querida Cloé, a tua passagem pelo Benfica estará eternamente associada à construção de uma equipa vencedora e hegemónica. Foram quatro anos fantásticos com momentos extraordinários a nível nacional e principalmente a nível internacional. Contribuíste em conjunto com as tuas colegas, treinadores e staff para elevar o patamar das nossas próprias expectativas. Como diz o autor, a ponte é uma passagem para a outra margem. Espero que na outra margem encontres tudo o que desejas e mereces. Um contexto competitivo mais elevado e mais rico. Infelizmente esta nossa margem tornou-se pequenina para tanto talento, tanta ambição e tanto profissionalismo.
Apesar do esforço do meu Benfica, do teu Benfica, do nosso Benfica, o mesmo será insuficiente se as entidades desportivas e os outros clubes não acompanharem o desejável crescimento. Para já seremos aquilo que merecemos, ou seja, um país desportivo periférico com um futebol no feminino que evolui mas a uma velocidade baixa. Ser pequeno é uma opção incompreensível mas respeitável.
A tua ambição de pretenderes mais para a tua carreira é igualmente respeitável. Desta forma, e deste lado do rio vamos continuar a perder talento e a nivelar a competição por baixo. O Benfica continuará a fazer o seu caminho solitário na esperança que outros se juntem e na esperança que os órgãos competentes compreendam o momento e invistam naquilo que muitos não aceitam ser uma inevitabilidade.
Como escreveu Alberto Caeiro: “quem me dera ser o burro do moleiro e que ele me batesse e me estimasse… antes isso que ser o que atravessa a vida olhando para trás de si e tendo pena”. Serás sempre uma de nós. Desejo-te o melhor. Esta porta estará sempre aberta se quiseres voltar e se o ambicionado contexto te convidar e estimular. Obrigado por tudo o que fizeste pelo nosso Benfica. Juntos para sempre.»