«A saída do Benfica se calhar foi mau negócio, foi…»
Bernardo Silva (à direita) com João Félix (Foto: Crystal Pix/IMAGO)
Foto: IMAGO

«A saída do Benfica se calhar foi mau negócio, foi…»

NACIONAL22.11.202321:34

Bernardo Silva recordou a sua saída para o Mónaco por €15 milhões; Jorge Jesus, Luís Filipe Vieira e de muito mais falou o internacional português

Foi de forma muito realista, mas com clara ponta de mágoa, que o extremo internacional português, em entrevista à RTP, esta quarta-feira, detalhou e comentou a breve passagem pelos encarnados. Subiu à equipa principal em 2013/2014 e no final dessa mesma temporada foi vendido ao Mónaco.

- Quando chega à equipa principal, com Jorge Jesus a treinador, o que lhe passou na cabeça?

- Só queria dar o máximo para ficar ali, o meu sonho sempre foi ser jogador do Benfica, nunca tinha sonhado ser jogador do Manchester City ou do Mónaco, sonhava ser jogador da equipa principal do Benfica, a partir dai tudo o que viesse seria um extra.

- Não correu bem com Jorge Jesus…

- Não, porque tinha outras opções, e é legítimo. Sempre achei que era.

- Provavelmente foi o pior negócio da história do Benfica

- Se calhar foi mau negócio, sim; poderia ter dado outro proveito não apenas financeiro mas também desportivo, se calhar podiam ter ficado comigo pelo menos três ou quatro anos e depois terem-me vendido por um valor superior, talvez…

- É verdade que Jorge Jesus lhe disse que um menino betinho não chegaria a bom jogador?

- Não, não foi o Jorge Jesus que me disse isso, mas disseram-me, na formação do Benfica: ‘filho de doutor não dá jogador’. Eu levei um bocadinho a peito e fiz tudo o possível para que desse.

- Era muito diferente a forma de ver de Jesus ou Guardiola para a sua?

- Até diria que de certa forma somos parecidos, porque ambos gostamos de futebol ofensivo, de pressão, acho estranho as coisas não terem funcionado.

- A sua sorte, da carreira, foi Jesus e terem-nos vendido ao Mónaco

- Dai vem um pouco a minha tristeza porque achei sempre que o clube me poderia ter segurado de outra forma.

- É uma crítica a Luís Filipe Vieira?

- Não só, porque um clube não é gerido apenas por uma pessoa, mas a um grupo de quatro ou cinco pessoas fortes no clube que, se percebessem de futebol, poderiam ter visto as coisas de outra forma, diria eu.

- No Mónaco abre-se um outro mundo?

- Novamente um choque de realidade, mas tive a sorte de trabalhar com Ricardo Carvalho e João Moutinho, que na altura eram jogadores do Mónaco, um diretor-desportivo que era Luís Campos e um treinador que era o Leonardo Jardim, uma família portuguesa eu me ajudou bastante.

- Ganha a alcunha do pastilha-elástica…

- Foi, uma alcunha gira que mais tarde passou para Manchester. Acho até que foi o Mendy que me deu a alcunha… No Mónaco os preços foi mais um choque de realidades. Tinha no Mónaco um pequeno T1 no Mónaco, na marina, mas o que ele custava provavelmente em Lisboa comprava o Castelo de São Jorge…

- Como coincide a ideia de futebol de Guardiola com a sua?

- Um futebol ofensivo, de posse de bola, de tirar a bola aos adversários, não lhes dar tempo para respirar. A ideia de jogo de Guardiola baseia-se na coragem, a teimosia de seguir com as ideias dele mesmo quando as coisas não correm bem.

- Também se corre muito e o Bernardo até nem é musculado…

- Vou ser sincero… até é um mau exemplo para a malta mais nova porque eu não vou muito ao ginásio… Mas tem de ver com a minha posição, o Rúben Dias, sendo central, tem de ser mais entroncado […] Cada um tem a sua parte e se todos quiséramos marcar golos, ninguém os faz. O trabalho dos avançados é marcar golos, guarda-redes e defesas é impedir que se sofram e os médios é um pouco o de ligar tudo. Ser reconhecido por todos é uma grande motivação para continuar a fazer bem as coisas.

- Vem ai o Europeu..

- Uma das falhas da minha carreira é nunca ter ajudado Portugal a ir um bocadinho mais longe num Europeu ou num Mundial e espero ainda conseguir fazê-lo. Há uma responsabilidade muito grande desta geração, não me lembro de uma Seleção com tantos jogadores ao mais alto nível.

- O que se aprende com Ronaldo?

- Sobretudo a ter mentalidade, de nunca satisfação dele… é sem dúvida uma coisa que nós, mais novos, tentamos absorver dele.

- Como vê o futebol português?

- Não vou mentir e dizer que está ao mesmo nível do inglês, não está. É diferente. O português tem manha..

- Atiram-se para o chão…

- Atiram-se para o chão, mas isso é um problema que deveria ser controlado de outra forma, os jogadores portugueses que jogam em Inglaterra não se atiram para o chão… tem a ver com todo o sistema e com o árbitro. Em Inglaterra atiro-me para o chão uma, duas vezes, não apitam e já não me atiro a terceira. Em Portugal compensa, a ideia de que o contactozinho é sempre apitado, faz com que o futebol…

- Depois há grandes guerras à volta das arbitragens…

- Em Inglaterra também há, mas o que conta é o que se passa nos 90 minutos e lá joga-se e em Portugal estão sempre a mandar-se para o chão e os árbitros apitam tudo.

- Apesar disso, quer voltar?

- A minha paixão pela Seleção, pelo meu País e pelo Benfica é muito grande, não se mede pelo que estiver a acontecer.