Espaço Universidade Vamos regressar ao futuro 3 (artigo de José Neto, 120)
Nos dias de hoje torna-se fundamental cultivar o espaço para que a mensagem da vida possa contemplar toda uma comunidade que de nós faz parte, vivenciando o sucesso, não apenas como resultado de fatores pessoais, e o fracasso como causador de causas alheias.
Na vida do dia-a-dia vamo-nos apercebendo que o poder da palavra pode enfatizar o ouvinte, desafiar o desatento, impulsionar o caminhante e esculpir a própria trajetória da vida.
Algumas palavras se transformam em notícias de paz, de generosidade e duma inatacável honestidade de processos. Outras, porém, confundem-se com os fazedores de falsas notícias, falando de ética sem conhecer a razão e por isso revisitando-se ao espelho da sua própria ignorância, deixam resvalar para os ouvidos de quem as escuta, inquietude, desespero e ilusão, conspurcando-as de ira e azedume, tentando colorir a falsa conduta, sempre à custa do maior ranking de antena.
Quando uma inapelável e devastadora inquietude nos revisita, temos de encontrar um alento revitalizador, optando por selecionar um alfabeto composto de verdade, graciosidade, convicção, rigor, devoção e beleza.
A autenticidade não se negoceia, vive-se com eloquência. Por vezes não é fácil articular o vocabulário pelo significado de quanto as palavras serão merecedoras. Basta um simples olhar para esculpir o percurso duma viagem de sonho, que só o silêncio pode verdadeiramente explicar.
Diziam os antigos que havia três verbos poderosos do nosso comportamento: querer, dever e poder. Nem tudo o que quero eu posso, nem tudo o que eu posso eu devo e nem tudo o que eu devo eu quero. Só estarei bem quando o que quero é ao mesmo tempo o que posso e o que devo.
Vamos por isso, exercer a vida, apoiados nas palavras que possam estabelecer uma dialética de convicção que nos permita poder regressar com segurança ao futuro e abdicar de conceder tempo de antena às notícias provocadas por uma arteirice primária, para não chamar oportunismo político, capaz de chamar a si as suas camufladas razões.
Não é bom exasperar-se nos momentos de descontrole emocional. Mais vale perante tais focos de neblina discordante, encontrar os melhores momentos perante o subtil significado do silêncio, obter as respostas mais adequadas.
Marc Semedt no “elogio do silêncio” (2001), seleciona o significado do silêncio numa frase absolutamente arrebatadora: “quando o que disseres não for mais belo do que o silêncio – CALA-TE!…”. O silêncio é a cor das ocorrências que a vida nos conduz. Pode ser ligeiro, alegre, venerável, triste, desesperado, feliz. Se escutarmos bem o silêncio, ele fala-nos do estatuto e qualidade das situações que encontramos. É a voz que nunca nos trai, é o nosso companheiro que nos conserva a alma, vive na intimidade e nos liberta dos sentimentos do desespero, molda-nos a esperança, provocando muitas vezes a profundeza da leitura do tempo como uma imagem móvel da eternidade.
Numa floresta do Tibete o discípulo prosseguia o seu Mestre na sua diária caminhada de exploração da natureza, refletindo no encontro do amor e da sabedoria universal como uma existência perfeita.
Entretanto, pergunta o discípulo ao Mestre: “Mestre…Mestre o que é o silêncio?” …a resposta não surge!... Mais umas largas passadas e surge novamente a pergunta: “Mestre…Mestre qual o significado do silêncio?” …e nada de resposta. Até que se foi repetindo esta questão que já se tornava muito inquietante para o discípulo. Chegados junto a um desfiladeiro, em que havia tombado uma gigante árvore que atravessava um fundo precipício, o Mestre com voz calma interpelou o discípulo da seguinte forma: “olha, atravessa o precipício” …chegando a meio caminho lhe ordenou: “alto!…agora pendura-te pelos dentes num dos ramos da árvore!” ...e de imediato o Mestre perguntou ao discípulo: “qual era a pergunta que me estavas a fazer?”
É claro que o discípulo perante um caso de gravidade de queda no fundo desfiladeiro, caso abrisse a boca, agarrou com toda a força os canos da árvore e retrocedeu o caminho para junto de seu Mestre, percebendo que o silêncio se explica pela forma como cada qual lhe atribui o significado ou eco facilitador do reencontro com o futuro, fazendo da liberdade um bem, da recordação um perfume e da memória um privilégio.
José Neto: Doutorado em Ciências do Desporto; Docente Universitário; Investigador.