Seleção de Basquetebol de Cabo Verde: enorme salto qualitativo no Ranking FIBA (artigo de Eduardo Monteiro, 71)

Espaço Universidade Seleção de Basquetebol de Cabo Verde: enorme salto qualitativo no Ranking FIBA (artigo de Eduardo Monteiro, 71)

ESPAÇO UNIVERSIDADE04.01.202216:59

Durante muitos e bons anos, quer dizer entre 1989 e 2013, habituámo-nos a ver o basquetebol africano ser dominado por um país lusófono (Angola). Durante esse período, a seleção angolana teve jogadores de excelente qualidade, no entanto, houve um atleta (Jean Jacques) que fez a diferença para melhor.

A experiência adquirida enquanto jogador do Sport Lisboa e Benfica durante 8 épocas (1988 a 1996) e as passagens pela equipa francesa do Limoges (1996 a 1999) e espanhola do Unicaja (1999/2000) e, posteriormente, pela equipa da Portugal Telecom (2000 a 2003), transformaram-no num atleta extraordinário e decisivo nos títulos continentais africanos conquistados pela seleção angolana. Não foi por acaso que foi o primeiro jogador africano a ser eleito para o Salão dos Famosos (Hall of Fame) da FIBA. Daí para cá verificou-se alguma desvalorização do basquetebol angolano por dificuldades surgidas na gestão federativa e da consequente falta de investimento na formação de jogadores e especialização dos novos talentos.

No AfroBasket 2007, disputado em Luanda, a seleção nacional de Cabo Verde obteve o 3º lugar e a respectiva medalha de bronze, como corolário da melhoria organizativa do desporto no arquipélago e das suas representações nas competições africanas. Uma lufada de ar fresco no basquetebol lusófono em terras africanas. Na recente competição AfroBasket (2021) Cabo Verde  não conquistou nenhuma medalha, mas andou lá perto pois atingiu as meias finais. Foi vencido na meia final por uma diferença de 10 pontos  (65-75) com o campeão em título (Tunísia) e, no jogo de disputa da medalha de bronze, deu enorme luta à experiente equipa do Senegal (73-86) que no seu plantel tinha um experiente atleta da NBA. De qualquer modo, os resultados alcançados no decorrer do AfroBasket 2021, são o reflexo da melhoria organizativa da modalidade e boa  utilização dos recursos humanos que Cabo Verde possui.

A incorporação de Walter Tavares (2,21 metros e 125 Kg), com passagem pela NBA, influente jogador do Real Madrid e um dos mais consagrados valores da Euroliga, não só trouxe experiência à representação lusófona como ajudou a conquistar uma valorização a nível internacional que possibilitou a  subida de 26 lugares no Ranking FIBA, ou seja, o maior salto qualitativo de uma seleção nacional à escala mundial.
 

FIBA AFROBASKET  RWANDA - 2021

A 30.ª edição da mais importante competição de seleções nacionais masculinas do continente africano (FIBA AfroBasket), foi realizada no Rwanda (24 Agosto a 5 Setembro), na recém construída “Kigali Arena”, com capacidade para 10.000 espectadores, ou seja, a maior instalação desportiva coberta naquela zona de África.
 

FASE DE QUALIFICAÇÃO

Entretanto, durante os primeiros meses de 2021 decorreram, de forma descentralizada, os torneios de apuramento para o “AfroBasket” tendo ficado apuradas as seleções dos seguintes países: Nigéria, Sudão do Sul, Mali, Senegal, Costa do Marfim, Tunísia, Angola, Egipto, Camarões, República Centro Africana, República Democrática do Congo, Kenya, Guiné, Cabo Verde e Uganda, a que se juntou a representração do Rwanda na qualidade de anfitrião do evento, num total de 16 nações.

HISTORIAL DAS SELEÇÕES

As 16 equipas representativas das nações qualificadas apresentavam um historial de participações e uma experiência adquirida baseada nos resultados alcançados nos anteriores “AfroBasket” que, de certo modo, correspondem ao estado actual de desenvolvimento do basquetebol nos respectivos países. Assim, vejamos as suas credenciais: Nigéria - 19 participações e 1 título (2015); Sudão do Sul (estreante), Mali – 20 participações e um 3º lugar (1972); Senegal – 29 participações e 5 títulos (1968, 1972, 1978, 1980, 1997); Costa do Marfim – 24 participações e 2 títulos (1981, 1985); Tunísia – 23 participações e 2 títulos (2011, 2017); Angola – 21 participações e 11 títulos (1989, 1992, 1993, 1995, 1999, 2001, 2003, 2005, 2007, 2009, 2013); Egipto – 24 participações e 5 títulos (1962, 1964, 1970, 1975, 1983); Camarões – 10 participações e um 2º lugar (2007), República Centro Africana – 20 participações e 2 títulos (1974, 1987); República Democrática do Congo – 7 participações e um 4º lugar (1975); Kenya – 4 participações e um 4º lugar (1993); Guiné – 6 participações e um 4º lugar (1962); Cabo Verde – 7 participações e um 3ºlugar (2007); Uganda – 3 participações e um 13º lugar (2017); Rwanda – 6 participações e um 9º lugar (2009).

SISTEMA COMPETITIVO
 

FASE DE GRUPOS:

Na fase inicial (fase de grupos) do AfroBasket 2021, as seleções foram divididas em 4 Grupos (de 4 equipas cada) jogando todas entre si. Os primeiros classificados de cada grupo ficaram, desde logo, apurados para os quartos de final da competição: Cabo Verde, Tunísia, Costa do Marfim e Senegal. Resultados significativos:

- No Grupo A: Cabo Verde (1º classificado) através das vitórias sobre Angola (77-71) e Rwanda (82-74);

- No Grupo B: Tunísia (1ª classificada) venceu os confrontos com a Guiné (82-46), Egipto (87-81) e R.Centro Africana (68-51);

- No Grupo C: Costa do Marfim (1ª classificada) ultrapassou as equipas do Kenya (88-70), Mali (90-67) e Nigéria (77-68).

- No Grupo D:  Senegal (1º classificado) venceu o Uganda (93-55), Sudão do Sul (104-75) e Camarões (98-65).


OITAVOS DE FINAL:

As seleções classificadas em 2º e 3º lugar dos quatro grupos disputaram através duma eliminatória directa o acesso aos quartos de final da prova.

Resultados: Guiné-Rwanda (72-68), Angola-Egipto (70-62), Uganda-Nigéria (80-68), Sudão do Sul-Kenya (60-58).


QUARTOS DE FINAL:

As seleções vencedoras de cada grupo na fase preliminar (fase de grupos),  através de eliminatória directa, defrontaram os vencedores dos encontros dos oitavos de final o acesso às meias finais da competição: Costa do Marfim-Guiné (98-50), Senegal-Angola (79-74), Cabo Verde-Uganda (79-71) e Tunísia-Sudão do Sul (80-65).


MEIAS FINAIS:

Costa do Marfim-Senegal (75-65) e Tunísia-Cabo Verde (75-65).

Apuramento do 3º e 4º lugar:  Senegal-Cabo Verde (86-73)


FINAL:
Tunísia- Costa do Marfim (78-75)

RANKING AFRICANO e MUNDIAL (actualizado em 7.Dez.2021)

1º e 22º Nigéria (+1) 458 pontos; 2º e 28º Tunísia (+2) 371 pontos; 3º e 31º Angola (+2) 335 pontos; 4º e 34º Senegal (+2) 321 pontos; 5º e 40º Costa do Marfim (+6) 266 pontos; 6º e 59º Egipto (+3) 176 pontos; 7º e 64º Camarões (-1) 146 pontos; 8º e 69º Marrocos (0) 135 pontos; 9º e 72º Mali (+3) 131 pontos; 10º e 74º Cabo Verde (+26) 128 pontos; 11º e 75º R. Centro Africana (+1) 126 pontos; 12º e 78º Uganda (+12) 122 pontos; 13º e 81º R. Democrática do Congo (0) 117 pontos; 14º e 82º Sudão Sul (+12) 116 pontos; 15º e 84º Rwanda (+11) 111 pontos; 16º e 98º Moçambique (-10) 98 pontos; 17º e 99º Guiné (+19) 97 pontos; 18º e 103º Kenya (+8) 94 pontos; 19º e 105º Argélia (-4) 91  pontos; 20º e 108º Chad (-4) 89 pontos.  
 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Analisando o comportamento desportivo das 20 primeiras seleções africanas melhor valorizadas, verificamos que a seleção de Cabo Verde subiu 26 lugares no ranking africano e mundial, seguido das equipas nacionais da Guiné (19 lugares), do Uganda e Sudão do Sul (ambas 12 lugares). No sentido contrário, as que desceram mais lugares foram as representações de Moçambique (10) e Zambia (7).
 

Relativamente aos países lusófonos podemos dizer que Angola, embora se mantenha no trio da frente no ranking africano, tem trabalho de casa para fazer tendo em vista a recuperação da liderança do basquetebol em África.  

Moçambique, uma nação com grandes tradições no basquetebol, necessita de organização interna sobretudo ao nível do sistema desportivo sob pena de perder definitivamente o prestígio conquistado com muita dedicação e trabalho.

Cabo Verde se continuar a investir na sua juventude e procurar retirar maior rendimento dos seus recursos humanos, tem condições para melhorar as suas prestações no continente africano.

A Guiné Bissau e S.Tomé e Príncipe têm de começar a trabalhar na formação de treinadores e jogadores para poderem  participar progressivamente nas competições regionais dos escalões jovens.

O Brasil que é a terceira potência do basquetebol nas Américas, logo a seguir aos USA e Argentina, tem perdido terreno relativamente a alguns países europeus no contexto internacional. No entanto, o trabalho efectuado pela actual Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB) sugere que o desenvolvimento da modalidade em terras brasileiras está no bom caminho.


Haja saúde.

Eduardo Monteiro é ex-treinador do SL Benfica e das Seleções Nacionais

Eduardo Monteiro