A Moral dos Desportos, de Paul Adam (artigo de Vítor Rosa, 181)

Espaço Universidade A Moral dos Desportos, de Paul Adam (artigo de Vítor Rosa, 181)

ESPAÇO UNIVERSIDADE04.01.202223:07

Refletir sobre Paul Adam (1862-1920) não é apenas descobrir um escritor e ensaísta e nos familiarizarmos com a sua vasta obra. É abrir uma janela sobre o mundo, no qual o autor evoluiu e que tentou partilhar com os seus contemporâneos. O mais interessante neste romancista, que foi comparado a Honoré de Balzac (1799-1850), não é a sua individualidade, mas a sua singularidade. É tudo o que tece os laços com outros escritores, homens e mulheres, e outros pensamentos.

 um “outlier” do naturalismo, deixando a sua marca no movimento simbolista francês. Profundamente marcado pela revolução industrial e o crescimento fulgurante do capitalismo, a sociedade do século XIX modifica as invenções: locomotiva, eletricidade, etc., e tem repercussões no mundo do trabalho e sobre a ocupação dos territórios, cada vez mais polarizados em torno de grandes cidades que oferecem trabalho às grandes massas operárias, e que veem a abertura de grandes espaços comerciais, induzindo a novas formas de consumir. Paul Adam é um fascinado pela ideia do perpétuo progresso da humanidade. Originário da alta burguesia, a sua família é constituída por grandes industriais e militares de carreira, que se encontram arruinados pela crise geral de 1882 (colapso da Bolsa de Paris), uma crise que marca fortemente o espírito de Adam e que o conduzirá a adotar um ponto de vista crítico sobre o sistema financeiro e político da sua época. É um simpatizante do anarquismo, que prefere mais os cenáculos literários, estando com os seus pares, do que o barulho dos cafés.
 

Para o que nos interessa, Paul Adam é um convertido às “canções” da vida desportiva. Nos anos 1900 escreveu vários ensaios, incluindo “La Morale des Sport” (1907), que, na verdade, é sobre o discurso desportivo da época. Neste ensaio expõe o que entende por desporto, ou seja, “toda a obra que coordena uma série de ações físicas homogéneas e racionais, a fim de aumentar a performance, a coragem e a força no homem” (p. 9). Para si, o gosto latino de triunfar individualmente incita a esgotarmo-nos num esforço único. O culto dos desportos engendra novas forças. Neste sentido, Paul considera que as modalidades desportivas fornecem o remédio propício para a cura da enfermidade pública, em particular a sociedade francesa da época. Do ponto de vista social, as práticas do boxe, da esgrima, do tiro, do automobilismo, da natação, da canoagem, da equitação, da marcha, da equitação, entre outras, deveriam ser obrigatórias para obter a melhor recompensa atribuída pelas organizações desportivas. Os concorrentes que demonstrassem a melhor habilidade, performance e sabedoria calculada pelos seus músculos, depois de diversos ensaios, mereciam uma glorificação. “O homem - como referia Nietzsche -, deve superar-se a si próprio”. Foi isto que Paul Adam tentou demonstrar com este ensaio sobre o desporto, merecendo ser revisitado.

Referências:

Adam, P. (1907). La morale des sports. La lib. Mondiale.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa