PEDIU Roger Schmidt à sua equipa que fizesse exibição de luxo frente ao Vitória de Guimarães e de luxo foi, na verdade, muito do futebol que a equipa lhe ofereceu. A ele, treinador, e a uma plateia frenética, entusiástica e empolgada que voltou a encher, praticamente, o Estádio da Luz na tarde/noite de ontem, para testemunhar como a equipa do Benfica continua a dar sinais de uma liderança incontestável e a estar realmente imparável nesta sua tentativa de recuperar o título de campeão nacional que celebrou, pela última vez, em 2019.Mesmo admitindo-se que este obstáculo chamado Vitória de Guimarães, que entrou na Luz como 5.º classificado da Liga, parecia, à partida, poder criar grandes dificuldades ao líder do campeonato, a verdade é que a resposta dos rapazes de Roger Schmidt veio na linha do esplendor na relva exibido com os belgas do Club Brugge, para a Liga dos Campeões, também na Luz (também com um 5-1), e com o Marítimo, no Funchal (vitória por 3-0).Neste 7.º sucesso consecutivo em todas as competições e 9.º na Liga, o Benfica foi realmente capaz de mostrar a confiança, coesão, espírito de equipa e qualidade de jogo que o mantêm, naturalmente, como principal candidato a suceder ao FC Porto na cadeira do campeão. Poder-se-iam dar vários exemplos de como a equipa de Roger Schmidt dá ideia de saber exatamente o que quer e como o conseguir.Julgo, porém, que, do jogo de ontem, poderemos retirar como bilhete-postal, no lado ofensivo, a jogada do 3.º golo da equipa (superiormente finalizada por João Mário), e, no lado defensivo, a impressionante resposta coletiva (com ação decisiva de Chiquinho) a uma perda de bola de Grimaldo já no último terço do campo, num momento em que a equipa estava totalmente balanceada para a ofensiva e o Vitória de Guimarães procurou desferir o golpe do contra-ataque.É essa imagem de coesão e espírito e essa capacidade de resposta de equipa que reflete extraordinária química com o treinador, que o Benfica deixa, igualmente, aos adversários, e sobretudo aos que, apesar das diferenças pontuais, ainda alimentam (justificadamente, como é compreensível) a ilusão de vir a destronar o líder, como são os casos de FC Porto e Sporting de Braga, que esta tarde se defrontam, num momento, agora, de maior pressão ainda para ambos, depois do vendaval que sempre significa a expressiva vitória por 5-1 com que as águias concluíram o seu trabalho nesta 25.ª jornada.Os 22 golos marcados (e apenas três sofridos) nas últimas sete vitórias (média de três por jogo…), a qualidade de jogo e a confiança de um onze praticamente sempre composto pelos mesmos jogadores - que expressam, apesar disso, invejável condição física - inevitavelmente transmitem entusiasmo contagiante à plateia encarnada, quando, especialmente na Luz, se vê, como ontem voltou a ver-se, o impactante apoio de quase 60 mil adeptos da águia.O Benfica de Schmidt, com um futebol por vezes demasiadamente jogado com pezinhos de lã, parece-me assentar em dois pilares, essenciais à estrutura e não à exuberância: o experiente Otamendi e o jovem António Silva. Mas creio que dificilmente Roger Schmidt poderia surpreender mais do que surpreende com o trabalho feito, e conseguido, com Chiquinho, que certamente obriga a morder a língua comentadores, como eu, que nunca o imaginaram capaz de fazer parecer que Enzo Fernández não deixou, afinal, a Luz.Na verdade, perante o que se testemunhou, de novo, no jogo de ontem, creio que fará sentido dizer-se que quem gosta de futebol não pode deixar de gostar do que vê neste Benfica, expresso no mérito, evidentemente, dos jogadores, mas muito, também, certamente do homem que, ao chegar a Portugal, disse gostar do Benfica por gostar, simplesmente, de futebol.Schmidt ainda nada conquistou. Mas já ganhou, claramente, muita coisa.