Rodrigo Pinho representou o Benfica em 2021/2022 e na primeira parte da época em curso, encontrando o clube numa fase delicada e não conseguindo celebrar qualquer título.– Tendo sido utilizado no campeonato, na Taça de Portugal e na Liga dos Campeões, pensa ser possível conquistar pelo menos um troféu e comparecer no Marquês de Pombal para festejar com os seus antigos companheiros?– [risos] Estou a torcer muito para ganhar o Campeonato, para ganhar a Taça de Portugal, para ganhar a Liga dos Campeões, se acontecer serei campeão de tudo isso também. Gostaria de poder voltar para festejar com os meus companheiros, mas infelizmente estarei no meio do meu campeonato aqui no Brasil. Mas vou estar a festejar deste lado, de certeza absoluta!– No campeonato, o Benfica já teve vantagem maior sobre a concorrência do que aquele que tem agora. Há razões para preocupação?– É difícil conseguir jogar um campeonato inteiro com a mesma qualidade, com a mesma intensidade, claro que vai haver um jogo ou outro em que as coisas não vão correr bem. É pensar nessa gordura que criou e conseguir mantê-la o máximo tempo possível para tentar ir até ao fim. Quando aparecer um jogo em que as coisas não estão a correr muito bem, então poderá usar essa gordura, queimar essa vantagem. Mas o Benfica está num caminho muito certo, penso que voltou a jogar o que estava a jogar no início da temporada, voltou às melhores atuações, está novamente confiante, vai ser difícil tirar esse título ao Benfica. – A mentalidade que Roger Schmidt incutiu na equipa torna o Benfica claramente diferente das versões anteriores. O Benfica parece mais ofensivo e autoritário. Dá gozo aos jogadores ir a Paris e jogar de igual para o igual com uma equipa como o PSG?– Sim, sim, o treinador faz os jogadores acreditarem que podem ganhar em qualquer estádio, contra qualquer adversário. É a mentalidade que passa para nós e os jogadores acabam por entrar mais soltos e tranquilos no jogo.– No balneário pensa-se que o Benfica tem condições para chegar, por exemplo, à final da Liga dos Campeões?– O sentimento é que o Benfica pode ganhar qualquer jogo. Todos sabemos que na Liga dos Campeões iremos encontrar grandes adversários, que não vai ser fácil, mas o Benfica tem jogadores com muita qualidade, muitos deles a jogar o seu melhor momento, com confiança, e o Benfica tem tudo para fazer uma grande Liga dos Campeões. Para ser a surpresa da Liga dos Campeões e ganhar o Campeonato Nacional. – Dois dos jogos que fez este ano pelo Benfica foram precisamente contra o PSG, na condição de suplente utilizado. Que guarda desses momentos?– É muito especial. Para mim jogar a Liga dos Campeões é um sonho. Fiquei muito feliz por ter entrado nesses jogos, ainda que por pouco tempo. Mas deu para sentir o clima, um clima diferente, e, sim, vai ficar marcado na minha vida e quem sabe um dia poderei voltar a jogar outros jogos como esses. – Como é que surgiu a troca do Benfica pelo Coritiba?– O António [Oliveira, treinador] contactou-me, mas havia já o interesse do Coritiba. Quando o mister e a Direção do Coritiba entraram em contacto comigo deixaram muito claro que queriam contar comigo, que tinham esse desejo de ver-me no clube. E, como já disse, era desejo meu voltar ao Brasil e jogar. Precisava de jogar, de voltar a ter minutos, de recuperar a confiança, de voltar a ser o jogador que eu era antes da lesão e no Benfica não estava a ter os minutos de que precisava, até porque a equipa estava muito bem. Quem jogava na frente estava a jogar muito bem e a dar conta do recado, então seria difícil para mim conseguir uma sequência de jogos. Então aceitei essa possibilidade de vir para o Coritiba e tentar ser o jogador que eu era antes.«ROGER SCHMIDT FOI SEMPRE SINCERO COMIGO»– Era jogador do Marítimo, quando o Benfica surgiu na sua carreira. Pode explicar como tudo aconteceu?– Assinei em janeiro, era jogador livre. Na realidade, apareceram alguns clubes nessa altura e eu, na qualidade de jogador livre, queria ter algum tempo para tomar a melhor decisão, até porque apareceram vários clubes. Queria esperar, sentia que não era o momento de decidir, estava a sentir-me muito bem, os golos a sair, então não tinha pressa. E então surgiu o interesse do Benfica, surgiu esse interesse sério, entraram em contacto com o meu empresário, e quando soube do interesse do Benfica nem pensei duas vezes, era o que eu queria e acabei por assinar logo em janeiro. Depois tive essa pequena lesão [no joelho], mas como eu já tinha assinado pelo Benfica parecia que as pessoas não acreditavam muito na minha lesão. E quando cheguei ao Benfica fiz exames e constataram que havia um pedaço de cartilagem que tinha de ser retirado. – Antes mesmo da época terminar já estava no Seixal a ser tratado.– Sim, sim, comecei o tratamento, acabei por ter de fazer mesmo a cirurgia, abrindo mão das minhas férias, para recuperar-me, para poder chegar à próxima temporada a 100 por cento. Não tive grandes férias, continuei a fazer o meu tratamento, ainda assim comecei a pré-época depois dos outros, fazendo ainda um trabalho de recuperação. «COM JESUS, SE NÃO TEM A CABEÇA BOA…»– E começava a trabalhar pela primeira vez com Jorge Jesus. Como foi?– Foi intenso… [risos]. Cobra bastante, mas aprendi muito, taticamente o mister é diferente. Aprendi muito com ele, mas a questão da exigência não é fácil, se você não tem a cabeça boa, se não sabe ouvir, não é fácil. Mas acho que me fez também crescer e fiquei triste por ter-me lesionado porque não pude lutar por um lugar. – Explique-nos o que aconteceu no jogo com o Santa Clara, nos Açores, de 2021/2022. Rodrigo foi titular, desbloqueou um jogo que estava difícil para o Benfica (1-0, aos 42’) e foi substituído ao intervalo. Afinal, o que se passou?– Foi uma surpresa para mim também. Nunca tinha acontecido isso comigo, marcar um golo e ser substituído no final da primeira parte. O jogo estava difícil e acho que o golo desbloqueou aquele jogo. E a segunda parte até acabou por tornar-se mais fácil. Acho que foi uma questão tática. Rafa estava no banco, e era um jogador que poderia dar mais velocidade, e entre o Darwin e eu - estávamos a jogar juntos na frente -, Jesus optou por deixar o Darwin. Talvez mais pela questão da velocidade, não sei. Mas nunca me disse nada. O jogo acabou por tornar-se mais fácil, na segunda parte dos espaços apareceram e o jogo terminou 5-0. Se eu estivesse ali poderia ter marcado mais golos, poderia ter-me destacado também naquele jogo. E não vou mentir: tirou um pouco da minha confiança. Você faz um golo e acaba substituído ao intervalo… não é fácil. – Como correu para si a transição de Jorge Jesus para Nélson Veríssimo? – Na verdade não tive muitas oportunidades de trabalhar com Nélson Veríssimo, eu estava lesionado, penso que só fiz uma semana de treino com ele. Estava no período da lesão e não tive muita possibilidade de conviver com ele no dia a dia, não tenho muito para dizer.«SCHMIDT FOI SEMPRE SINCERO COMIGO» – E quanto a Roger Schmidt? Muda a treinador, vem um estrangeiro. Que opinião tem dele?– É um grande treinador e está a fazer um grande trabalho. Os treinos dele são muito bons, intensos e curtos. Mas há também exigência e o diálogo que tem com os jogadores. Passa confiança para toda a gente, apesar de não ter jogado muito, não tenho do que reclamar. Tive as minhas oportunidades e não tenho nada a reclamar, quem está a jogar, está muito bem. Gonçalo está a fazer um ano espetacular, Musa quando entrou também fez golos, havia ainda o Henrique. Roger Schmidt foi sempre muito sincero comigo, correto, conversámos muito e nada tenho de mau a apontar-lhe. – Passou também por SC Braga, Nacional e Marítimo.– Quando cheguei ao SC Braga vinha de uma realidade bem diferente, tinha jogado no Madureira, no Rio de Janeiro, até ao fim do estadual, apresentei-me em julho e senti muito a pré-temporada, foi muito difícil para mim, depois de dois meses sem me treinar. Ou sem treinar da forma mais correta. Cheguei, bem atrás dos outros, e acabei por perder o meu espaço, não consegui acompanhar o ritmo. Fui emprestado ao Nacional e fiz poucos jogos, na época seguinte voltei para Braga, já me sentia melhor. José Peseiro, que era o mister, não queria contar comigo, continuei a treinar-me, mas separado, trabalhei um pouco na equipa B, com Abel Ferreira, e a dado momento fui chamado para voltar à equipa A. Depois o mister José Peseiro saiu e entrou Jorge Simão, fiz alguns jogos e golos, fomos à final da Taça da Liga, que perdemos para o Moreirense. Na época seguinte apareceu a oportunidade de ir para o Marítimo para jogar com regularidade e comecei a jogar com mais frequência e a sentir-me importante no clube, com confiança do treinador. As coisas foram correndo bem, fiz uns dez golos nos primeiros seis meses. No segundo ano tive um desentendimento com o presidente Carlos Pereira, as coisas não correram tão bem, mas a seguir José Gomes, e estou-lhe muito grato, ajudou-me muito, foi uma boa época. A partir da chegada dele foi muito bom para mim e no ano seguinte estourei no Marítimo. – Foi uma época boa e má, também sofreu lesão grave.– É verdade, primeiro magoei o tornozelo. Ter ido a Guimarães foi um grande arrependimento meu. Apanhei Covid-19, 14 dias em casa, no dia em que podia sair tínhamos viagem para Guimarães. Fiquei 14 dias quase sem fazer nada, fui para o jogo, entrei perto do final e torci o tornozelo, fiquei um mês para recuperar dessa situação e quando voltei sofri pequena lesão no joelho mas que me incomodava muito, um pedaço da cartilagem estava solto, os exames demoraram a revelar esse problema…«GONÇALO RAMOS ATÉ NO TREINO DÁ O MÁXIMO, ENZO VAI SER UM DOS MELHORES DO MUNDO»– A evolução de Gonçalo Ramos da época passada para esta foi surpresa também para si? – Acompanhei o trabalho dele diariamente, é um jogador diferenciado, que não desiste de nenhuma bola, mesmo no treino está sempre lutando, dando o máximo, não pára de correr um minuto. Ajuda muito a equipa. E tem poder de finalização muito forte. Na época passada ele não jogava como um ponta de lança sozinho na frente, jogava mais atrás e isso é diferente. Agora está mais preocupado com o último terço, com o último toque, com a finalização, jogando com grandes jogadores ao seu lado e isso torna tudo mais fácil. Rafa também está num momento precioso, está a jogar muito, tem Neres, João Mário, muito bem também. Gonçalo Ramos está unicamente preocupado em finalizar, tem de sair muito menos da área, e está a ter mais destaque.– Enzo Fernández é tudo aquilo que as pessoas pensam e esperam dele? – É um craque! Um craque! Esse surpreendeu-me! Porque não o conhecia muito bem. Quando chegou, a personalidade, a tranquilidade de tocar a bola, a visão de jogo dele, os passes, acima da média, vai ser um dos grandes médios do Mundo, na realidade já é, já venceu um Mundial, está a fazer uma grande época e vai ser um dos melhores jogadores do Mundo, de certeza absoluta. – Trabalhou com Darwin. Que opinião tem de um jogador que está hoje em dia no Liverpool, uma das melhores equipas do Mundo? – Um jogador diferente, uma força, uma velocidade… acima do comum. Tecnicamente também é muito bom. É bom jogador. E ainda tem muito para crescer, vai de certeza crescer muito, mentalmente. Tem um grande futuro e já está a colher os frutos das grandes temporadas que fez no Benfica. Não é fácil chegar ao Liverpool, há muita exigência, mas Darwin tem tudo para ter grande sucesso.«PRECISO DE JOGAR, PRECISO DE MINUTOS, DECIDI VOLTAR AO BRASIL» – Mudou-se há pouquíssimo tempo para o Brasil, para representar o Coritiba, e já leva quatro golos em seis jogos. Pode dizer-se que as coisas estão a correr muito bem?– Sim, na verdade estão. Tinha o desejo de voltar ao Brasil. Claro que gostaria que as coisas tivessem corrido bem no Benfica, mas com a lesão as coisas acabaram por tornar-se mais complicadas. Quando um jogador vem de uma lesão grave como a minha, precisa de jogar, precisa de ter minutos e por isso tomei a decisão de voltar para o Brasil. – Rodrigo nasceu na Alemanha, mas tem raízes no Brasil?– A minha família é toda brasileira. [em Portugal vivia com a mulher Lígia, e com os filhos Gabriel, de 6 anos, e Catarina, de 2 anos]. Nasci na Alemanha, mas só lá estive um ano e depois voltei logo para o Brasil. – Já está bem adaptado ao Cortitiba?– As coisas estão a correr bem, mas estão ainda bem no início, estamos na fase de preparação - é a fase dos campeonatos estaduais -, para o campeonato brasileiro, que este ano vai ser seguramente muito bem disputado, pois subiram grandes clubes da Série B, Vasco da Gama, Cruzeiro, Bahia… Vai ser um ano bem competitivo.– Está a trabalhar com um treinador português, António Oliveira, que dirigiu a equipa B do Benfica. Devem ter-se cruzado algumas vezes no Seixal. Já o conhecia?– Sim, estou a trabalhar com o António, cruzámo-nos algumas vezes no Seixal, mas nunca tinha trabalhado com ele.