Naquela altura, em 2016, Youssef Chermiti, avançado do Sporting, agora com 18 anos, não desconfiava que, passados mais de seis anos, marcaria o golo da vitória da equipa principal do Sporting, como aconteceu segunda-feira, em Vila do Conde, diante do Rio Ave (1-0). Naquela altura, o jovem açoriano, então com 12 anos, já com aventuras em várias modalidades desportivas, como basquetebol, andebol, futsal ou natação, representava a escola de futebol de Pauleta, num torneio em Torres Vedras, e foi aí que o scout do Sporting o observou pela primeira vez, foi aí que nasceu um amor à primeira vista. O menino Youssef nem quis saber de mais nada e transferiu-se de armas e bagagens para a Academia, num trabalho feito em conjunto entre os responsáveis leoninos e os pais, que, apesar do coração destroçado, fruto, obviamente, da separação, queriam, sobretudo, ver o filho feliz. E sabiam que a felicidade do pequeno passava por dar aquele passo. Deram-lhe, pois, asas para voar. E Chermiti voou. Para trás ficava a lindíssima ilha de Santa Maria, onde nasceu - o pai de Chermiti, Noureddine, tunisino de nascença, transferiu-se para os Açores para jogar basquetebol e com ele viajou a sua mulher, cabo-verdiana. O pequeno Youssef, que tem mais duas irmãs, nasceria mais tarde…Na Academia, como sempre acontece, foi recebido com carinho, houve sempre a preocupação de minimizar os efeitos que a separação dos pais sempre provoca. «MIÚDO EXTROVERTIDO»Luís Dias era o coordenador técnico da formação dos leões e recorda bem o dia em que o pequeno Youssef chegou à Academia, ele que iria integrar a equipa de sub-13 - Chermiti, refira-se, chegou ao Sporting na temporada de 2016/2017 e cumpriu todas as etapas de leão ao peito até chegar aos seniores, ou seja, representa o Sporting há sete épocas consecutivas.«Recordo um miúdo que, talvez por ser o irmão mais novo, era extrovertido, descontraído, muito entusiasmado com o desporto, até porque as irmãs eram atletas de bom nível, e sempre viveu com isso, a acompanhar as irmãs e ele próprio a fazer outros desportos. Curiosamente, o que jogava menos era futebol. Apareceu nos sub-13 e ficou na Academia muito pelo seu potencial, não tanto pelo rendimento na altura, pois, comparado com outros, com 4, 5 ou 6 anos de Sporting, já com torneios internacionais jogados… Chermiti conquistou alguns títulos na formação e o seu empenho levou o Sporting a apostar na sua continuidade no clubeE ele nunca tinha andado nessas lides. Tinha uma grande disponibilidade física e também técnica, percebemos que se trabalhasse podia chegar onde está a chegar. A decisão não foi fácil ao primeiro embate, porque não tinha o rendimento dos colegas, mas tinha grande disponibilidade e características morfológicas que não eram vulgares em Portugal», lembra o então coordenador técnico, revelando uma curiosidade: quem avaliou aquele jovem que acabava de chegar dos Açores integra hoje a equipa técnica liderada por Rúben Amorim. «Quem fez a avaliação na altura foi o Emanuel Ferro, hoje adjunto da equipa profissional», conta-nos Luís Dias, que se encontra esta semana em Lyon, França, a dar formação numa academia local que recebe jogadores de vários clubes. RENDIMENTO VS POTENCIALO antigo responsável da formação dos leões relembra que a adaptação de Chermiti nunca foi problema - «Nunca revelou qualquer problema nesse aspeto. Aqui a questão era perceber se iria progredir dentro daquilo que era o jogo coletivo, atendendo a que não tinha competição em idades de iniciação comparado com outros jogadores, como, por exemplo, o Mateus Fernandes, e a verdade é que conseguiu, fruto do seu empenho e disponibilidade. Continuo a achar que já tem algum rendimento, mas ainda tem um caminho longo a percorrer. Continua a ser jovem em formação, já tem algum rendimento, mas continua a ter potencial de crescimento muito significativo», garante Luís Dias, realçando que Chermiti, hoje em dia, é muito fruto do empenho no trabalho que colocou todos os dias e no acreditar por parte do Sporting: «A sua perseverança, empenho e de toda a estrutura que lhe deu ferramentas e puxou por ele para chegar ao nível dos outros. Nunca foi o jogador com melhor rendimento do seu escalão, só mais à frente é que se começou a destacar. Foi sempre mais potencial do que rendimento.» NÚMEROS7As épocas em que Chermiti representa o Sporting, onde chegou em 2016/2017, passando a integrar a equipa de sub-13. Cumpriu todos os escalões de formação até chegar aos seniores4Apesar da sua juventude, Chermiti já representou quatro clubes na sua curta carreira, três deles nos Açores: Os Marienses, ACF Pauleta e GD São Pedro. Depois chegou ao Sporting.5Os jogos em que, esta época, Chermiti representou a equipa principal dos leões. O avançado soma, neste momento, 210 minutos, 205 na Liga e 5 na Taça da Liga. Marcou um golo e tem uma assistência Luís Dias confessa ainda que não está surpreendido com as respostas que Chermiti está a dar, mas lança alguns alertas. «Por um lado, não estou surpreendido. Está a fazer um caminho normal para jogador das suas características, mas devo dizer que não é um jogador feito ou que vá ter grande rendimento a curto prazo. Vai continuar a crescer bastante e, se estiver a jogar na equipa A, vai crescer a vários níveis, sobretudo no jogo coletivo, nas ações de pressão defensiva, na qualidade na finalização, pois também aí tem a melhorar, no posicionamento para abordar as situações de finalização… Enfim, não lhe podemos colocar a pressão de ser ele a resolver o que os mais velhos não conseguem. 'Não lhe podemos colocar a pressão para resolver o que os mais velhos não conseguem' Deve ser um crescimento normal, tem jogado, corrido bem, mas tem de continuar a ganhar consistência como jogador de alto rendimento», defende, acreditando que Rúben Amorim está a dar os passos certos: «Rúben mostrou confiança, pelas declarações e ações, mas não podemos esquecer jogadores no passado recente que já não são tão opção, casos do Rodrigo Ribeiro. O futebol é muito fruto de momentos muitos bons, mas de repente há momentos menos bons. O discurso e ações de Amorim têm sido coerentes, mas as pessoas e sócios não podem olhar para o Youssef como solução de todos os males quando há lá jogadores com outro estatuto que têm essa missão.»A concluir: «O caminho está a ser bem feito e o miúdo aproveitou a oportunidade. Mas só isto não chega, tem de ganhar maturidade. Tem grande potencial de crescimento. Com trabalho e sorte pode tornar-se numa referência no ataque do Sporting.» «DIVERTIA-SE MUITO COM A BOLA» Presidente do clube há quatro anos, Bruno Almeida era um dos coordenadores do ACF Pauleta quando Chermiti por lá andava - viajava de Santa Maria para São Miguel todas as sextas-feiras, com o pai, para se treinar e jogar ao fim de semana - e já nessa altura o avançado se destacava. «Nada surpreendido com o seu percurso. Quando chegou ao clube já jogava pelo escalão acima, tendo em conta a sua qualidade. Era um miúdo muito divertido. Divertia-se muito com a bola, para a idade dele já era bastante alto e logo aí se destacava», lembra Bruno Almeida, que continua a acompanhar o percurso de Chermiti: «Temos por norma acompanhar os praticantes que aqui estiveram e temos seguido atentamente. É com muito agrado que vemos o Chermiti chegar à equipa principal do Sporting.»Bruno Almeida, presidente do ACF PauletaTal como Luís Dias, também Bruno Almeida realça a capacidade de trabalho do jogador: «Sabia o que queria. Sabe que sem trabalho não se chega a lado algum. Tem qualidade, a sua estatura também ajuda, mas sem dúvida que o trabalho será a chave do sucesso do Chermiti.» SABIA QUE...Polivalente. O avançado leonino, antes de decidir que queria seguir a carreira de futebolista, ainda tentou a sua sorte no basquetebol, andebol, futsal ou natação, em em todas elas apresentou resultados positivos. Mas acabou por optar pelo futebol.Sempre o desporto! O avançado do Sporting cresceu de mão dada com o desporto, uma vez que o seu pai foi basquetebolista. Mas, além de Noureddine Chermiti, também as irmãs de Youssef, mais velhas, deram cartas no basquetebol.