O Sporting saiu vivo de Vila do Conde a poucos dias de receber o FC Porto, jogo no qual vai decidir muitas das ambições no campeonato. O leão estava obrigado a vencer para não hipotecar provavelmente em definitivo a possibilidade de alcançar um lugar de acesso à Liga dos Campeões na próxima temporada. Depois das vitórias dos rivais, sabia que não podia falhar, mas a verdade é que esteve muito longe de ser uma equipa consistente. A noite fria e o relvado irregular eram poucos convidativos e o Sporting deixou-se ir na estratégia do Rio Ave. Os primeiros 45 minutos foram mesmo para esquecer. A estatística, aliás, resume fielmente a primeira parte: quatro remates e nem um enquadrado. Só o de Morita, ligeiramente ao lado, criou algum frisson. Pouco. Muito pouco. Pouca agressividade, futebol denunciado e nem um pingo de criatividade. No lado esquerdo, Nuno Santos ainda deu alguns sinais de inconformismo, mas à direita todos se lembraram de... Porro. Adivinhavam-se as substituições e Manuel Mota foi o primeiro a dar o mote, pois o árbitro nem um minuto de compensação concedeu ao intervalo... Rúben Amorim ainda esperou 10 minutos. O jogo, contudo, continuava feio, quase sem oportunidades. Futebol muito mastigado, longas trocas de bola e quase nenhuma inspiração individual. Tudo previsível. O Rio Ave ia-se sentindo cada vez mais confortável, fechava bem as linhas de passe e depois sabia que qualquer precipitação ou erro dos jogadores leoninos o poderia deixar perto do golo. Amorim olhou para o banco e lançou as opções mais ofensivas. Apostou e ganhouFoi o que aconteceu, com Boateng a falhar, isolado, o 1-0 na cara de Adán. Valeu ao Sporting a mancha do guarda-redes. O susto causado pelo ganês despertou Rúben Amorim, que não esperou mais e lançou Trincão e Arthur, abdicando do desinspirado Edwards e poupando Nuno Santos, que estava em risco para o clássico de domingo. [!VSPORTS=https://abola.vsports.pt/embd/83221/m/12037/abola/a1a87b8659c46b2cd78b7b89eeb77cc1?autostart=false!]A exibição não melhorou muito, dando razão ao treinador quando lamenta a bipolaridade do leão. Na realidade, é difícil compreender uma equipa que tanto goleia o SC Braga ou vence para a Champions o Tottenham e logo de seguida não tem capacidade para ultrapassar um sem número de adversários bem mais modestos. Mais do que bipolar, este leão parece viver uma crise de identidade. São muitos os momentos em que a equipa parece perdida e em que emocionalmente se descontrola. Nuns momentos por falta de maturidade noutros por falta de confiança. Como o plantel não tem as opções de épocas anteriores, tanto em termos de qualidade como de qualidade, os problemas, naturalmente, agravam-se. Rúben Amorim disse na véspera que andava há meio ano a falar do mesmo e que a equipa tinha de somar várias vitórias consecutivas e em Vila do Conde nunca se conformou, apesar de a resposta dos jogadores estar longe de lhe agradar. Foi olhando para o banco e fez entrar as opções mais ofensivas de que dispunha. Depois de lançar os dois extremos fez entrar Jovane. Apostou tudo e acabou por ganhar.O Rio Ave já se acomodara a defender o nulo e o Sporting estava instalado no meio-campo vila-condense. Qualquer erro poderia ser fatal e foi o que acabou por acontecer. Um erro deixou Chermiti na cara de Jhonatan e o menino de 18 anos atirou cruzado para a vitória, disfarçando assim mais uma crise de identidade. ENTRADAS DE BELLERÍN E DIOMANDE MOSTRAM PLANTEL MAIS EQUILIBRADOOs reforços do Sporting para 2020/2023 ainda não se afirmaram como mais-valias. Pelo menos ao nível do valor dos principais jogadores que entretanto deixaram Alvalade. Se há muitos que ainda suspiram por João Palhinha ou Matheus Nunes, outros já começam a lamentar a recente saída de Pedro Porro para Inglaterra. O plantel do Sporting é curto e quando a equipa está privada dos castigados Coates e Paulinho ainda mais evidentes se tornam as limitações no grupo às ordens de Rúben Amorim. Depois da saída de Matheus Nunes em cima da hora do fecho do mercado de verão, que não permitiu ao clube contratar outro médio de qualidade semelhante ao internacional português para equilibrar o meio-campo - o jovem grego Sotiris foi a única aquisição para o setor -, os leões parecem ter aprendido a lição e poucos meses volvidos já não foram apanhados desprevenidos com a transferência do internacional espanhol, também já sob a hora do encerramento das inscrições. A Alvalade chegaram o lateral-direito Bellerín e o defesa-central Diomande no final de janeiro e já bem antes os leões tinham garantido o médio defensivo argentino Tanlongo. Jogadores que Rúben Amorim parece conhecer bem e nos quais não hesita em apostar. Em Vila do Conde ficou mais um exemplo. Nos minutos finais e depois de já ter visto a equipa adiantar-se no marcador, o treinador quis voltar a equilibrar um conjunto que antes tinha balanceado para o ataque e estreou Bellerín na lateral-direita e Osmande como central do lado esquerdo, compondo a defesa - Trincão e Arthur eram então os alas -, como que mostrando que o plantel tem soluções.