POSSO garantir que não acordámos agora, no sentido em que já todos percebemos o impacto crescente nos últimos anos, mas a verdade, agora, é que acordámos, de repente, para este impressionante número de assistência no dérbi do futebol feminino, que no último sábado levou, ao Estádio da Luz, mais de 15 mil pessoas (precisamente 15.032) para verem o Benfica-Sporting dos quartos de final da Taça de Portugal. Foi não apenas o jogo de futebol feminino mais visto de sempre, num estádio, em Portugal, como, imagine-se, o terceiro mais visto de todo este último fim de semana futebolístico, incluindo os jogos da Primeira Liga masculina, apenas superado pelo Sporting-Vizela (23.358) e pelo V. Guimarães-FC Porto (19.653), e muito acima do Santa Clara-Benfica, em Ponta Delgada, que levou ao estádio da capital açoriana, na ilha de São Miguel, menos de dez mil espectadores. A este dérbi da Taça de Portugal, claramente favorável à superior equipa feminina do Benfica, vencedora por significativa goleada por 5-0 de um jogo a eliminar, segue-se, hoje, o dérbi da Taça da Liga, agendado, desta vez, não para o Estádio da Luz, mas para o campo principal da academia dos encarnados, no Seixal, afastando, por isso, a possibilidade de se registar nova surpreendente assistência. Os números não enganam: em outubro de 2019, no primeiro Benfica-Sporting feminino, 12.812 espectadores; em maio do ano passado, também na Luz, ultrapassada a barreira das 14 mil pessoas (14.221); oito meses depois, sensivelmente, mais de 15 mil num Benfica-Sporting, bem acima da terceira maior assistência de sempre num jogo feminino (13.894 espectadores), registada na final da Taça de Portugal do ano passado, entre Sporting e Famalicão.Confirma, tudo isto, claramente dois factos: o crescimento evidente do futebol feminino, mesmo num país com tão pouca tradição como o nosso (que torna, igualmente, inquestionável, o sucesso do trabalho de promoção, investimento e desenvolvimento competitivo que tem vindo, nos últimos anos, a ser realizado pela Federação Portuguesa de Futebol, bem acompanhado pelos clubes que apostaram, há mais ou menos tempo, nesta assinalável força motriz do desporto feminino) e, por muito que isso custe a adversários e rivais aceitar, mostra ainda o peso social, impacto emocional e paixão clubística da maior instituição desportiva portuguesa, o Benfica, inigualável na capacidade de mover massas, de gerar, como nenhuma outra, receitas e de, como nenhuma outra, mover a nossa economia desportiva.Não foi, evidentemente, por acaso que coube à instituição Benfica construir o maior estádio do País quando se projetaram os novos recintos para a fase final do saudoso Campeonato da Europa de 2004, porque sabiam os responsáveis governamentais e desportivos que só mesmo o Benfica conseguiria rentabilizar um estádio para 65 mil pessoas, destinado, há quase vinte anos, a receber, como recebeu, a final (para nosso descontentamento) da maior competição europeia de seleções. O que me suscita outra questão: em matéria de centralização dos direitos televisivos do espetáculo principal, estará o país, em geral, e o futebol português, em particular, preparado para avaliar e aceitar corretamente o que dita o mercado do consumo futebolístico, mesmo sob o olhar, lamentavelmente embaciado e profundamente crispado, das três cores que dominam, de forma desportivamente pouco educada, o panorama do desporto nacional?Ninguém pode, ainda, saber o que vai suceder. Curiosidade não falta. Veremos se justificará a expectativa.PS: Bom e emocionante espetáculo o Arouca-Sporting da meia-final de ontem da Taça da Liga, que manteve Rúben Amorim no trilho que o pode levar à impressionante conquista do 10.º troféu na prova, como jogador e treinador. E ao quarto consecutivo, como ‘chefe de orquestra’. O que será, sempre, inédito!