O Irão despediu-se do Mundial, sem conseguir pelo menos empatar frente aos Estados Unidos (bastaria esse resultado face à vitória de Inglaterra frente ao País de Gales), numa competição em que não houve descanso, e Carlos Queiroz era um homem resignado mas também revoltado no final do jogo.
«Estou triste com o futebol de hoje, não é aquele que quando começava um Mundial era uma festa. Agora é o Mundial dos direitos dos homens, das mulheres, dos maridos, dos filhos, dos animais... são situações respeitáveis e sérias, claro, mas deveríamos falar disto apenas uma vez e deixar que outros seguissem com isso», disse o selecionador do Irão, no final do jogo, revelando que a seleção «recebeu ameaças o tempo todo».
«Não são as ameaças construídas pela CNN, são as ameaças de morte no Instagram», precisou Queiroz, numa referência à notícia divulgada ontem pela CNN internacional, citando fontes da segurança da equipa no Catar, que indicava que as famílias dos jogadores foram notificadas pelas autoridades iranianas de que poderiam vir a ser torturadas caso a equipa não cantasse o hino nacional ou exibisse mensagens políticas.
«Não foi nada fácil», confidenciou o antigo selecionador de Portugal. Dando os parabéns aos EUA pela qualificação, Queiroz lamentou a ineficácia («os deuses do futebol beneficiam os que marcam, os que não marcam são castigados») e deixou o futuro em aberto sobre a continuidade no cargo: «A minha relação contratual termina agora, vamos ver.»
O clima político no país e a relação tensa entre o povo e a própria seleção, cujos protestos na fase inicial do Mundial transformaram os jogadores num símbolo contra o regime (ontem surgiram vídeos de festa nas ruas do Irão pela eliminação), levantam muitas dúvidas sobre as condições de trabalho.