Fazer de Portugal uma verdadeira nação desportiva (artigo de Vítor Rosa, 170)

Espaço Universidade Fazer de Portugal uma verdadeira nação desportiva (artigo de Vítor Rosa, 170)

ESPAÇO UNIVERSIDADE27.09.202116:01

Nos últimos anos, o desenvolvimento da atividade física e desportiva ao longo da vida tem sido objeto de diversos relatórios, com origens diversas, e com mais ou menos qualidade. A prática desportiva é uma ferramenta de emancipação e de aprendizagem. Não é um setor que se deva colocar num qualquer canto, esquecido. O desporto faz sonhar a nossa juventude e faz com que alguém encontre o seu lugar na vida ou, como diria o sociólogo Pierre Bourdieu, nesta «miséria do mundo».

As escolas e os clubes desportivos deveriam irrigar mais desporto nas nossas aldeias, vilas e cidades, por forma a que ele assuma um lugar essencial no projeto global de sociedade. É preciso criar condições para se oferecer uma prática desportiva para todos e por todo o lado. Só nestas condições é que ela será integrada no modo de vida de todos, constituindo progressivamente um verdadeiro facto cultural. Esta ambição supõe mudar de paradigma, é claro, posicionando verdadeiramente a atividade física e desportiva para todos, em todo o território e ao longo da vida, no coração da nossa cultura, da nossa educação e na vida quotidiana de todos os portugueses.

Se a pertinência é atestada por vários estudos realizados sobre a prática desportiva, em todos os domínios, é necessário uma mudança profunda sobre como se olha para o fenómeno, uma mudança cultural que exige ambição, tenacidade e mobilização de todos os atores. Mas constatamos que a situação atual está muito afastada desta visão. Temos que reconhecer que, objetivamente, a prática desportiva é muitas vezes percebida como acessória e não como elemento central da nossa cultura e das nossas políticas públicas.

Se o objetivo é desenvolver a atividade física e desportiva, chegando ao maior número de pessoas, temos que ter em conta a progressão das práticas livres e não enquadradas, o que supõe uma evolução profunda da oferta tradicional. Não poderá haver uma estratégia ambiciosa em matéria de desenvolvimento de atividades físicas e desportivas se não se dispõe de instalações suficientes, adaptadas, abertas e repartidas, de tal forma que sejam acessíveis a toda a população e em todo o território. Tem que existir uma competência partilhada e não chefes de fila. Contrariamente a outros países, o Estado português não tem uma estratégia nacional global sobre a atividade física e desportiva.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa