Os  ciclos do Futebol de Formação (artigo de Armando Jorge Carneiro)

A BOLA É MINHA Os  ciclos do Futebol de Formação (artigo de Armando Jorge Carneiro)

NACIONAL06.08.202014:59

Quando se fala em Futebol de Formação e numa academia tem obrigatoriamente que se falar em investimento de longo prazo. O tempo é o maior aliado do Futebol de Formação. Ao contrário do Futebol Profissional.

No futebol , como nas empresas, a vida é feita de ciclos. O curto prazo é um ano, uma época desportiva. O médio prazo são três anos. E o longo prazo sempre mais de três anos.

Mas se quisermos avaliar corretamente em todas as vertentes a performance de uma academia - jogadores na primeira equipa, no futebol profissional  nacional e internacional, nas seleções nacionais, qualidade formativa, mais valias financeiras - o resultado é avaliado por um ciclo de uma década.

Claro que existem indicadores e resultados no médio prazo, mas a avaliação mais correta deve ser feita no longo prazo, inclusive pelos comportamentos e performance da potencial concorrência direta (nacional ) e indireta (internacional).

E se neste século a primeira década foi liderada claramente pela academia do Sporting , na segunda década a liderança foi da academia do Benfica. Isto a nível interno.

Mas lá fora, quer o Sporting, na primeira década, quer o Benfica, na segunda década, foram na minha opinião e factualmente academias de top-3 mundial (com Barcelona e Ajax).

Por tal razão, a terceira década afigura-se como um enorme desafio para todos. Internamente, e com a introdução em boa hora da Certificação das Academias pela Federação Portuguesa de Futebol, clubes como Benfica, FC Porto, Sporting, SC Braga, V. Guimarães e Marítimo, entre muitos outros, deram um salto quantitativo e qualitativo enorme a todos os níveis (retenção de talentos, infraestruturas, investimento financeiro, formação e qualidade de recursos humanos) e apresentam-se na linha da frente para conquistar o futuro.

Por outro lado, as mais recentes conquistas internacionais, quer das nossas seleções jovens, quer ao nível de clubes nas várias competições internacionais de relevo, catapultaram Portugal para o topo da formação internacional. A Federação desenvolveu com os clubes um excelente trabalho.

Estou expectante, numa indústria que não tem parado de crescer, para ver como vão nesta próxima década os clubes portugueses responder a este desafio competitivo de observar e descobrir, reter e desenvolver talento com os meios que têm ao seu dispor, comparativamente com as academias sob a umbrela dos maiores clubes europeus, nomeadamente os que se perfilam permanentemente na Champions.

Estou certo que esta pandemia do Covid-19 veio recolocar a dinâmica do mercado em níveis mais realistas e menos especulativos. Como estou certo que a legislação nos últimos anos, aprovada pelas instâncias de direito desportivo, vieram trazer mais transparência, organização, rigor e regular esta indústria no que ao futebol formativo diz respeito.

Na hora da partida para a terceira década deste século tenho para mim que vamos assistir a profundas alterações de comportamentos, práticas e estratégias de observar , reter e desenvolver os talentos do futuro. Já existem novas tendências e novas práticas no mercado. O conhecimento está mais acessível e é mais partilhado .

Será fundamental rever nesta altura  a visão e a filosofia do clube/academia para estar mais preparado para soluções e caminhos de sucesso. Que o tempo corra a favor para se ganhar o futuro do futebol nacional.

*Consultor Internacional de Futebol