«O futebol no banco dos réus» (artigo de Vítor Rosa, 104)

Espaço Universidade «O futebol no banco dos réus» (artigo de Vítor Rosa, 104)

ESPAÇO UNIVERSIDADE16.05.202022:27

«O futebol no banco dos réus» – é o título do livro de P. Murphy, J. Williams e E. Dunning, publicado pela Celta Editora, em 1994. Procura-se identificar os elementos que identificavam a “situação inglesa”, procurando situar o futebol, e os seus problemas, a nível internacional.

Os textos, apesar de datados, são muito interessantes. Alguns deles são desafiadores e provocantes. Os autores, através dos vários ensaios que compõem a obra, refletem sobre uma prática desportiva apreciada por milhões de pessoas. “O futebol é, sem sombra de dúvida, o desporto mais popular em todo o mundo” (p. 5). Ele não se limita apenas aos praticantes. Estende-se também aos espectadores.

Como refere Jorge Valdano (A Bola, 16/05/2020), “o futebol pertence-nos a todos” e “uma paixão que afeta milhares de milhões de pessoas, atravessando diferentes idiomas, raças e culturas, não pode ter dono”. A atração do futebol no mundo moderno decorre de ser acessível. Pode-se jogar com mais ou menos jogadores, o equipamento necessário para a prática é reduzido, na falta de um campo oficial, pode ser praticado num baldio. Se não existe uma bola normalizada, faz-se uma de trapos. Se não houver rede, as balizas podem ser marcadas com uns paus ou com umas pedras.

Segundo os autores, a “imutabilidade” das regras do futebol, conferiu-lhe uma grande “estabilidade” e “continuidade”. “Como jogo, a sua estrutura permite a contínua e renovada geração de níveis de tensão-excitação, muito apreciados tanto pelos jogadores como pelos espectadores” (p. 8). Colocam-se à prova as emoções. O futebol nasceu em 1863, quando foi fundada a Federação Inglesa de Futebol. No entanto, já no século XIV, havia jogos chamados de “futebol”.

Com a expansão desta prática desportiva, institucionalizaram-se as figuras do árbitro e dos fiscais de linha. Surgem as regras de aplicação das penalidades (penálti). Vão surgindo depois os presidentes, os treinadores, os funcionários dos clubes, etc. Imprime-se a dinâmica burocrática e comercial. A identificação com os clubes tem um papel fundamental. As pessoas que vão a um jogo de futebol, sobretudo ao de alta competição, sentem uma ligação ou identificam-se com uma das equipas intervenientes. Em tempos de covid-19, e com os jogos a disputarem-se à porta fechada, somos poupados da violência dos estádios.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa