O desporto e o risco (artigo de Vítor Rosa, 53)

Espaço Universidade O desporto e o risco (artigo de Vítor Rosa, 53)

ESPAÇO UNIVERSIDADE17.08.201900:58

A noção de “risco” é muitas vezes usada no sentido de perigo, que significa ameaça, queda, colisão, esgotamento, desidratação, etc. No domínio desportivo, vários perigos podem ser identificados, por vezes estreitamente ligados a uma prática específica: entorses, fraturas, hipotermia, dopagem, etc. Mas nem todas as situações portadoras de perigo acedem ao estatuto de risco. Inversamente, as atividades relativamente seguras podem tornar-se um risco.

Sem subestimar os perigos inerentes à prática, a visão do alpinismo como atividade de risco deve tanto aos testemunhos biográficos e mediáticos, de epopeias aventurosas, que à realidade acidental e às intenções profundas dos seus adeptos. Como uma construção de espírito, cada sociedade estabelece o que é perigoso, os riscos aceitáveis ou valorizados e a confrontar. A pertença à categoria dos “desportos de risco” não pode ser definida em relação ao grau de perigosidade das atividades. O sentido destas práticas elabora-se a partir do jogo das significações sociais.

O desporto implica uma atividade corporal, acentuando os poderes, a vitalidade e a eficacidade do corpo humano. Como presença e atualidade do corpo, o desporto é uma evidência. Mas é preciso reconhecer que o desporto para o corpo não é o simples suporte da ação. Ele está no centro dessa mesma ação. Os desportos mecânicos (automobilismo, por exemplo) ou os desportos como a vela parecem sofrer de uma limitação com a noção de desenvolvimento físico no desporto. No entanto, eles permitem confirmar os traços essenciais da essência da atividade desportiva: compromisso do corpo, que pode ir até ao risco de acidente ou de morte, exigências impostas em particular ao sistema nervoso e à resistência orgânica.

O fato de se dispor de uma “máquina”, com a qual o desportista se identifica, deve ser interpretada como a colocação entre parêntesis do corpo como a sua amplificação.

Vítor Rosa

Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares de Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa