A viagem do quarterback dos San Francisco 49ers ao maior jogo da sua vida foi tudo menos expectável, mas já se encontra a apenas 60 minutos de conquistar a glória eterna
O draft de 2022 da NFL (liga de futebol americano) estava a acabar: 261 dos principais talentos de todas as universidades do país já tinham sido selecionados pelas 32 equipas da liga, após sete rondas de escolhas. Só faltava uma.
Historicamente, o 262.º jogador a ser escolhido neste evento ficou conhecido como o 'Sr. Irrelevante' – e por uma boa razão. Todo o foco no draft vai para as primeiras escolhas, aquelas que são mais cobiçadas e que trazem os jogadores que se perspetivam ser as próximas estrelas do desporto mais popular dos Estados Unidos.
À medida que cada ronda passa, o interesse em cada jogador diminui, até chegar ao último, que se torna, por isso, irrelevante. Em 2022, esta escolha final coube aos históricos San Francisco 49ers, que selecionaram então Brock Purdy, vindo da Universidade do Estado de Iowa. No entanto, na primeira conversa que o treinador da equipa, Kyle Shanahan (em San Francisco desde 2017) teve com o atleta, vez questão de lhe frisar que o achava relevante: «Vimos-te em vídeos, sabes jogar a posição e este é um grande dia para ti.»
O facto de, menos de dois anos depois, Purdy ter liderado essa mesma equipa ao Super Bowl é, no mínimo, fantástico, mas também cometeu alguns erros na sua carreira colegial que ajudam a explicar a pouca fé que todas as equipas da NFL demonstraram nele.
Chegado ao calor californiano, Purdy sabia que era o terceiro quarterback de uma equipa que falhava constantemente em atingir o padrão por si estabelecido nas décadas de 1980 e 1990, quando venceu os únicos cinco Super Bowls da sua história num espaço de 10 anos – só os Pittsburgh Steelers e os New England Patriots, com seis, têm mais troféus. À frente de Purdy, na posição de quarterback dos niners, estavam Jimmy Garoppolo e Trey Lance.
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O primeiro era um jogador de créditos firmados, que guiou os 49ers ao Super Bowl em 2020 (perdida para os Kansas City Chiefs de Patrcik Mahomes) e à final da Conferência Nacional (NFC) – efetivamente a meia-final do campeonato – dois anos depois, mas também criticado pela sua incapacidade em sobressair nos momentos decisivos e propenso a lesões.
Já Lance fora a terceira escolha do draft do ano anterior ao de Purdy. O futuro da organização passava por ele. Foi suplente durante a maior parte da sua primeira época, participando em seis jogos e melhorando o seu jogo sob as asas de Garoppolo e do treinador Kyle Shanahan – em San Francisco desde 2017.
E assim partiram os 49ers para a época de 2022, sendo Lance o quarterback titular… por dois jogos, já que logo na segunda semana, o jovem partiu o tornozelo quando foi placado por dois adversários. A lesão acabou com a sua época.
Substitui-o então Garoppolo, que manteve o seu habitual nível de fiabilidade e guiou a equipa a sete vitórias em 10 partidas. Até que ao 12.º encontro, o atleta partiu o pé ao ser placado. Fim de época para ele também. E assim, Purdy teve a sua estreia na NFL, numa situação totalmente imprevista e muito mais cedo do que o desejável. A resposta do novato? Extraordinária.
Venceu logo esse jogo, com os Miami Dolphins. Na semana seguinte, ganhou aos Tampa Bay Bucaneers de Tom Brady, que é considerado quase de forma unânime como o melhor jogador de sempre da NFL. Purdy estava lançado e triunfou nos oito primeiros jogos da sua carreira, durante os quais lançou para 1.351 jardas, fez 13 passes para touchdown, somou apenas quatro interceções e guiou os 49ers à final da NFC.
Aí, em casa dos Philadelphia Eagles, a sorte voltou a virar a cara a San Francisco, com Purdy a sofrer uma rotura total de um ligamento no cotovelo do braço direito e ficar assim inapto para competir. Depois, o quarto quartercack da equipa na época, Josh Johnson, também se lesionou no jogo e a equipa perdeu de forma clara.
«Senti choques desde o cotovelo ao pulso, em todo o lado, tinha dor a toda a volta. Não conseguia lançar uma boa bola mais do que cinco jardas», disse Purdy sobre a lesão na conferência de imprensa pós-jogo.
O foco mudava-se assim para a época 2023/24.
Naturalmente reservado, o estilo de jogo de Brock Purdy reflete isso mesmo. Não é o quarterback mais vistoso, nem o mais atlético. Foca-se em fazer passes seguros, não corre riscos desnecessários e permite que as muitas estrelas da equipa brilhem com a bola nas mãos, tais como Christian McCaffery, Deebo Samuel, George Kittle ou Brandon Aiyuk.
Como o próprio admitiu, numa entrevista à FOX em janeiro: «Não vou dizer que sou o melhor quarterback, mas tenho algum poder de fogo dentro de mim. Vejam alguns dos lançamentos que faço e vejam algumas das janelas para onde atiro.»
De resto, Purdy deixa que os resultados que atinge falem por si. E em 2023/24 estes não podiam ser melhores.
Em 16 jogos, Purdy levou os 49ers a 12 vitórias e ao 1.º lugar da Conferência NFC. Foi o quarterback com mais jardas por passe (9,6) da liga, somando 4.280 jardas e 31 passes para touchdown.
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Fruto desta época regular, os 49ers jogaram sempre os play-offs em casa, tendo batido os Green Bay Packers (24-21) e aos surpreendentes Detroit Lions (34-31). Em ambas as partidas, os 49ers estiveram em desvantagem (de 7 pontos com os Packers e de 17 com os Lions), mas Purdy provou ter uma das características mais desejáveis de qualquer jogador na NFL e singrou nos momentos decisivos, guiando assim a equipa ao Super Bowl, onde vai enfrentar o novo 'rei' da modalidade.
O talento de Patrick Mahomes é imensurável. As comparações com Tom Brady abundam e a cada ano que passa parece que, aos 28 anos, o quarterback dos Kansas City Chiefs só depende de si para um dia suplantar Brady como o melhor jogador de sempre.
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Humilde nas palavras e hipnotizante em campo, Mahomes toma decisões como um veterano e passa e corre como o jovem que ainda é. Sob o comando do histórico treinador Andy Reid, os Chiefs são a nova dinastia da NFL, a equipa que todos querem vencer, mas só muito poucos o conseguem fazer, sobretudo nos play-offs, nos quais Mahomes tem o impressionante registo de 14 vitórias e apenas três derrotas. É este o adversário do Sr. Irrelevante no Super Bowl.
11 fevereiro 2024, 09:10
Quarterback quer o terceiro título de campeão, todos com os Kansas City Cheifs de Andy Reid; Pode fazer mais história se conquistar o troféu, o que colocaria a parceria com o treinador como uma das mais bem-sucedidas da história do futebol americano
É certo que essa alcunha estará com Purdy para sempre. Resta saber se, a partir de 12 de fevereiro, virá acompanhada de Vencedor do Super Bowl.
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